10/12/2018

O CAPUCHINHO CORRECTO

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Esta semana passámos a saber que a PETA deseja que os provérbios com uma pretensa carga de violência sobre animais sejam alterados para uma outra expressão muito mais amiga dos bichos e cujo sentido se mantenha. Em vez de matar dois coelhos de uma cajadada só, passaríamos a pregar dois pregos de uma martelada só.

Muito bem... Sou só eu... ou mais alguém acha que isto está a chegar a um ponto simplesmente ridículo?! Porque na realidade, quando se pega um touro pelos cornos, quem se aleija: o touro ou o desgraçado (ou maluco) que leva com o bicho, tenha a pessoa muitas ou nenhumas lantejoulas vestidas?! Ok, apanhar a rosa pelos espinhos pode à partida parecer que tem igual sentido, não fosse o facto de num cenário fora da tourada, num meio selvagem, em que uma pessoa se vê numa situação de ataque por parte de um bovino, caso não se tenha um árvore à qual subir, pegar o bicho pelos cornos pode ser mesmo a única solução de legítima defesa. Já apanhar as rosas pelos espinhos só pode significar duas coisas: estupidez ou masoquismo.

O politicamente correcto está a atingir níveis estapafúrdios, com qualquer coisa a causar a maior das indignações num grupo qualquer pelas razões mais insignificantes. Entendo que o piropo javardola deve ser punido, mas há imensos artigos de opinião que colocam em causa qualquer acto ou expressão que um homem use para abordar uma mulher. Por exemplo, segundo as opiniões expressas em algumas publicações, um tipo solteiro num cargo de chefia sentirá sérias dificuldades em confessar a sua paixão por uma colaboradora da sua equipa sem correr o sério risco de ser acusado de assédio sexual no local de trabalho, porque a fronteira entre a corte e o uso de uma posição de poder está tão esbatida que se torna confusa. Logo, o desgraçado está condenado a partir o coração e a dedicar o seu tempo ao Tinder.

Fez há umas semanas 12 anos que vos contei a história do Capuchinho Vermelho numa versão alternativa. Como é uma história que gosto particularmente e que tenho um prazer especial em desconstruir, terei de adaptar este conto à nova onda, cumprindo principalmente com os parâmetros de inibição da violência sobre animais, obviamente.

O CAPUCHINHO VERMELHO CORRECTO

Era uma vez uma cidadã chamada Capuchinho Vermelho. A Capuchinho Vermelho vivia com a sua mãe numa bela casa. Certo dia, a mãe disse à Capuchinho Vermelho:

- Oh Capuchinho, preciso que vás a casa da tua avó levar estes bolos, pois ela está muito doente. Só te peço isso porque já és maior de idade e tens actividade aberta nas Finanças, sendo este favor obviamente remunerado segundo as Leis do Código do Trabalho, evitando assim qualquer tipo de exploração ou trabalho infantil. E não te esqueças de não falar com desconhecidos e ires sempre pelo trilho dos Bombeiros.

E a Capuchinho Vermelho lá foi pela estrada fora. É então que aparece o Lobo Mau e lhe pergunta:

- Olá, menina! Onde vais com tanta pressa!
- Ou segues o teu caminho ou eu juro que apresento queixa de ti por assédio sexual!!
- Mas... mas... mas eu só perguntei onde ias e...
- Eu não tenho que estar disposta a ouvir um gajo que não conheço de lado nenhum a chamar-me menina de forma lasciva a cada esquina!
- Olha lá, mas tu tens noção que eu sou um lobo, não tens?! Fêmeas carecas, bípedes e com apenas um par de mamas não é muito a minha onda, ok? E seria contra as leis naturais.
- Ok... pronto, por esta passa e levarei em consideração que apenas estás curioso sobre o meu trajecto. Vou a casa da minha avó, levar estes bolos.
- Ah, muito bem. E têm gluten?
- Não, tudo sem gluten.
- Mas fizeste com leite de vaca!
- Não, leite de soja!
- Ovos?
- Zero.
- Açucar refinado?
- Frutose dos morangos usados no recheio.
- Ah... ok... E vais a pé, para não emitir CO2, muito bem... O cesto, de plástico?
- Verga.
- Sim senhor, muito bem... Então, visitar a avozinha, não é?
- É.
- Ok... 
- Pois...
- Adeus.
- Adeus.

E lá foi cada um para seu lado... mas o Lobo seguiu pelo meio da floresta e chegou mais rápido a casa da avó. Chegado lá, chamou a carrinha do Centro de Dia para a levar para um dia bem passado a jogar damas, porque comer a avó, além de ser uma carga calórica proibitiva, era inconcebivelmente violento.

Mascarou-se de avó e meteu-se na cama.

Quando a Capuchinho Vermelho chegou, bateu à porta para avisar que ia entrar.

- Avó, cheguei!!
- Olá, minha querida! Não me dês beijinhos pois podes ficar traumatizada para o resto da vida.
- Oh avozinha, estás melhor?!
- Estou, claro que sim, agora que estás aqui ao pé de mim.
- Oh avó, porque é que tens as orelhas tão grandes?
- Olha lá, nunca ouviste falar de body shaming? Queres gozar comigo só porque sou velha?!
- Não, nada disso! Bom, esquece... Trouxe-te bolinhos!
- AHHH QUE BOOOOOOMMM!!! - ruge o Lobo, libertando todo o seu lado animal, salivando e abanando a cauda num misto de satisfação e excitação, tal era o seu desejo de provar aqueles bolos véganos.
- AIIIIIII!!! SOCORRO!!!! A MINHA AVÓ FOI VÍTIMA DE ROUBO DE IDENTIDADE!!!

Um lenhador que se encontrava alí perto ouviu os gritos da Capuchinho Vermelho e correu imediatamente para a ajudar.  Não matou o Lobo com o machado porque se trata de uma espécie protegida, mas esteve a atirar-lhe uma bola para ele ir buscar até as autoridades o levarem para uma reserva protegida. 

Moral da história: se os sapatos da Capuchinho Vermelho são de cabedal, quem é o verdadeiro vilão desta história?

01/10/2018

LAMECHICE PARENTAL!


O homem é aquele ser muito estranho que quer sempre dar a entender que é uma pedra sentimental, impenetrável, inquebrável, inexpressiva e inamovível, mas que se desfaz em mil e um pedaços quando estão envolvidos os filhos.

A história que vos vou contar resume-se aos últimos minutos do jogo de ontem. 

Estávamos já nos descontos de um jogo que teimava em permanecer empatado. O relógio, no entanto, era implacável na sua cavalgada até ao anunciado fim de jogo. O jogo nem me estava a correr particularmente bem: ainda pesado, com alguma prisão de movimentos, cansaço a afectar cedo e acima de tudo lances pouco conseguidos em catadupa, entre passes falhados, cortes ineficazes e falhanços incríveis dentro da área adversária.

Num canto a nosso favor, vejo o meu pequeno Miguel, com a inocência dos seus 3 anos, agarrado à grade do campo com muita atenção ao que se passava. Numa jogada ao estílo de arma psicológica contra o adversário, gritei bem alto: "MIGUEL!!! OLHA BEM ESTE GOLO QUE O PAI VAI MARCAR!!!"

Logo as bocas começaram! "Olha este! Estás cheio de fé!!", "Não marcas nem que me escanifobetique todo" e "Queres o prémio de MVP, é?!" foram alguns dos comentários que ouvi nos momentos imediatamente a seguir. Mas eu, homem como sou, mantive-me completamente impávido face às provocações dos outros, pensando no meu íntimo "o que vale é que se não marcar ele também não percebe bem isso..."

O canto foi cobrado, mas nada daí adveio. No entanto, os adversários não conseguiram sair com a bola em contra-ataque. Recuperámos rápido e eles saíram em construção. No entanto, ao chegar perto do círculo central, interceptei um passe para o meio e arranquei em direcção à área adversária. Com um central pela frente, fiz uma ligeira desaceleração seguida de nova aceleração de corrida puxando a bola para a minha esquerda. O defesa tenta interceptar "à queima", mas falha rotundamente, permitindo-me passar por ele como uma flecha e entrar na área isolado, descaído sobre a esquerda. Controlando a bola com o pé direito, tinha agora o guarda-redes pela frente, um defesa a aproximar-se pela minha direita e um companheiro sobre o lado direito do campo. Um passe bem tenso para o meu colega era golo certo. Mas eu tinha prometido ao Miguel, e para todos os efeitos só havia o guarda-redes entre mim e a baliza, se me despachasse a resolver o assunto antes de o defesa me cortar a bola.

Ameaço com o corpo um remate de pé direito. O guarda-redes coloca-se em posição de atacar a bola mas não cai. É nessa altura que percebo o que vai fazer. Dou um passo com o pé esquerdo e quando estou a tirar o pé direito do chão, ele movimenta o seu corpo para a sua esquerda. Chuto com o pé direito para o poste mais perto de mim, enquanto ele cai para o lado contrário, com a cara de desespero de quem procurava interceptar um passe que nunca existiu. É GOLO!!!

Grito "golo" e corro imediatamente em direcção à rede! Depois, riu-me à gargalhada e grito mais umas vezes "É GOLO, MIGUEL!!! É GOLO, MIGUEL!!! HAHAHAHAHAHA!!!" enquanto tapo a cara com a camisola, num festejo à Ravanelli! Pela malha da camisola, vejo o Miguel aos saltos, sempre com as suas mãozinhas agarradas à rede! Quando chego perto dele, ajoelho-me a fingir que ia a deslizar pela relva (mas sem deslizar, que a relva sintética queima que se farta), tiro a camisola da cabeça e agarro a rede juntamente com os seus deditos, enquanto ele continua ao pulos a gritar "golo"! "Eu não disse?! Eu disse que ia marcar, não disse?!"

A bola nem foi ao meio-campo. O jogo terminou logo ali e o Miguel deu a volta e entrou no campo para me abraçar. Nesse abraço, tinha de vir a pergunta mais relevante de toda esta novela:

"Pai, po'que é que aquele sinhô'e caiu?!"

21/06/2018

GRUPO D - ARGENTINA 0-3 CROÁCIA - O VERDADEIRO 10 É CROATA E CHAMA-SE MODRIC!



Isto é futebol! Uma lição para todos os miúdos que agora iniciam a sua formação e aprendem a dar dois pontapés seguidos na bola. Como lição que é, vejo perfeitamente escrito no quadro de um qualquer balneário, no início de época:

LIÇÃO Nº1: O futebol é um jogo de equipa.
O exemplo do Argentina - Croácia

A Argentina implodiu devido a Sampaoli não conseguir fazer uma equipa a partir do grupo de jogadores talentosos que tem ao seu dispor. Leo Messi deve estar de férias num safari em África e no seu lugar está o seu gémeo maléfico, Joca Messi. O colapso argentino não está só no apagamento da sua estrela maior, mas principalmente pela salsada que está dentro de campo! Sálvio a lateral? Masquerano a comandar o jogo? Messi a 8? Ou a par com Higuain, em vez de o apoiar?

Verdade seja dita que está alí muito talento. Além dos já falados, há ainda Dybala, Di Maria, Aguero, Acuña, Otamendi, Rojo e Biglia. Mas nem das individualidades a Argentina consegue tirar partido e salvar-se, porque estas afundam-se na mediania das suas exibições, o que estrafega qualquer coelho que pudesse querer sair da cartola para se salvar de um guisado em lume brando que se está a cozinhar para os Pampas, em forma de eliminação.

Do outro lado, o oposto. Uma equipa montada com bons jogadores, alguns desconhecidos do grande público e a maioria a jogar em clubes de segunda linha europeia (só Modric e Rakitic estão em clubes para ganhar a Champions) mas que estão a jogar nas suas posições e trabalham em prol de um objectivo comum! Esta Croácia não é surpresa para ninguém, pois é a mesma Croácia que vi na fase de grupos do Euro-2016 e que arredou a Espanha para o 2º lugar. Pecou quando teve medo de perder com Portugal... e perdeu mesmo.

Modric marca um goooooooooooolaço!

Depois, ainda por cima têm Luka Modric, o 10 que não foi de férias! Exibição impressionante do capitão pequenote, coroada com um golão que arrumou com a Argentina a um canto! Brilhante a cobrir os espaços do meio-campo, brilhante na condução da bola, brilhante nas decisões de passar ou rematar, brilhante na aceleração ou abrandamento do ritmo de jogo! Tanto brilho só podia resultar no encandeamento dos argentinos, caramba!!!

Agora, resta à Argentina rezar ao Papa Francisco para que a Islândia não ganhe à Nigéria amanhã, senão tem de começar a pensar fazer as malas, pois nem uma vitória choruda no último jogo lhes garante o apuramento. 

Momento "Gabriel Alves"
"Modric faz um golaço!!!"
"..."
"Grande golo de Modric!!!"
"Podes continuar a falar, que eu quero apreciar todas as repetições deste golo!"

MVP

LUKA MODRIC

Cristiano Ronaldo foi brutal. Luka Modric foi divinal. São as duas melhores exibições individuais do Mundial 2018 até ao momento. Agora, vou ver o resumo do jogo mais uma vez, enquanto vocês põe comentários aqui e "Gosto" no meu Facebook.

20/06/2018

GRUPO B - PORTUGAL 1-0 MARROCOS - COISAS NUNCA VISTAS: UM UNICÓRNIO, UM CENTAURO E UM PASSE CERTO DE BERNARDO SILVA CONTRA MARROCOS.



Portugal ganhou a Marrocos e está bem lançado para passar aos 1/8s de final do Mundial.

Pronto, e era por aqui que eu me deveria ficar, pois a exibição de Portugal hoje em Moscovo foi para lá de sofrível! Contando todos os jogos de fases finais que assisti, este é provavelmente aquele com pior exibição da equipa nacional, mesmo contando aqueles em que perdemos de goleada, como o Alemanha - Portugal do Brasil!

Paupérrimo é um adjectivo elogioso para a exibição da equipa contra uma selecção marroquina que estava necessitada de ganhar, ou de empatar para poder procurar um milagre na última jornada, e que procurou desde o início fazer mossa na equipa portuguesa. Se até era esperado que isso acontecesse, o que não estava nas nossas contas é que Portugal passasse 85 minutos a tentar procurar ganhar a bola, a não conseguir ganhar segundas bolas, a não conseguir dar dois passes seguidos, nada disto em qualquer período do jogo! Não fosse o canto aos 4 minutos primorosamente cruzado por João Moutinho para a carolada de Cristiano Ronaldo e tínhamos voltado ao Grupo H do Euro 2016, mas com a agravante de nessa altura termos a bola em nossa posse mas não arriscarmos nada, e agora nem bola termos para podermos não arriscar!


Cristiano Ronaldo marcou um golo, isolando-se no topo da tabela dos Melhores Marcadores, podia ter feito outro e ainda assistiu Gonçalo Guedes para uma oportunidade isolado frente ao guardião adversário. Pedir mais ao capitão era abusar. Rui Patrício faz três defesas do caraças na segunda parte!! Se Portugal ganha este jogo, é por causa de CR7 e RP1. Depois, tivémos o João Moutinho a tapar buracos, e de resto...

Crrrriiiiii... Crrrriiiii... Crrrrriiii...

Ideias: ZERO!!!

Minto... nem grilos havia, pois foi um verdadeiro deserto de ideias, capacidade, velocidade, garra e jogo colectivo! Fernando Santos tem de fazer alguma coisa nos treinos até 2ª feira, ou arriscamo-nos a ter um dissabor muito, muito, muito grande contra uma selecção do terceiro mundo do futebol como o Irão, cujo seleccionador tem apenas um objectivo: não perder por nada com Portugal, e tentar ganhar com mais uma oferta de Alah.

Momento "Gabriel Alves"
Quando Bruno Fernandes chuta a bola para a Sibéria quando em posse, nos últimos minutos. E foi isto, não foi qualquer comentário da parte da transmissão da SIC, mesmo tendo o Nuno Luz como repórter de campo.


MVP

RUI PATRÍCIO

Se não fosse ele, Portugal tinha perdido. Não empatado, mas perdido o jogo com Marrocos. E teria sido ainda pior que Guadalajara 1986...

18/06/2018

GRUPO F - ALEMANHA 0-1 MÉXICO - CUIDADO COM OS PIMENTOS!


Ao quarto dia, a primeira verdadeira surpresa do Campeonato surge em Moscovo! O México é das selecções com mais presenças nas fases finais, mas é das que tem pior score em resultados. Em 54 jogos, o México obteve a sua 15ª vitória e tem 25 derrotas! A Alemanha é a actual Campeã do Mundo e vencedora da última Taça das Confederações, com um apuramento para a fase final com 100% de vitórias: 10 em 10 jogos!

Mas o que se assistiu foi ao México a pegar desde cedo no jogo, a pressionar os médios alemães e a recuperar a bola bem alto, para se desdobrar em ataques rapidíssimos. Chegou a certa altura a ser confrangedor assistir à falta de capacidade de concretização de lances muito bem delineados, por uma razão simples: "Chicharrito" Hernandez foi um homem a menos no ataque do México! Se o México jogou assim com 10, imaginem o que teria feito com 11 jogadores! A Alemanha teve imensa dificuldade em segurar o México, tentou impôr o seu jogo e não conseguiu! A pressão imposta pelo meio-campo mexicano, com Hector Herrera magistral e Miguel Layun espectacular na ala direita, era impressionante e sufocante, e os médios alemães ficaram completamente manietados, principalmente Khedira!

O golo tinha de aparecer, porque já se tornava estranho o domínio do México sem um golo! E Lozano, puto de 22 anos, fez aquilo que Chicharrito devia ter feito, pela sua experiência e "status quo" na selecção mexicana, e não fez: entrou na área, puxou para dentro e fuzilou, sem hipótese para Manuel Neuer.

"Chicharrito" Hernandez, é assim que se faz! Aprende!

Após o intervalo, pensei: "agora, o México rebenta e a Alemanha limpa o jogo como quem limpa rabinhos de bebés!". Foi mais ou menos isso, mas o problema para a Alemanha é que o bebé continuou a borrar-se todo, principalmente por culpa de dois homens: Miguel Layun e o seleccionador Juan Carlos Osório. O seleccionador foi procurando segurar o seu meio-campo com as suas substituições, principalmente porque Herrera já não tinha a frescura física para manter a bitola da primeira parte. Nesse aspecto, a entrada do velhote Rafa Marquez para o meio-campo defensivo foi preponderante, pois só faltou a bengalinha para dar lições de "meter gelo" aos putos de ambos os lados que estavam em campo. 

Layun, um defesa lateral de grande qualidade, parecia Cristiano Ronaldo ou Gareth Bale, pois foi o grande responsável por manter a Alemanha em sentido! Fez várias arrancadas, foi o mexicano com mais remates à baliza, correu quilómetros e decidiu quase sempre bem! Não marcou, é certo, mas foi enorme na condução dos contra-ataques e nas transições que davam tempo ao México para respirar.

Em suma, cuidado com este México! Se se empenhar assim nas restantes partidas, e principalmente tiver pulmão para isso, vão ser um tratado neste Mundial. Então se "Chicharrito" Hernandez aparecer para jogar e tirar de lá aquele boneco insuflável que apareceu no lugar dele, então aí é quase certo nas meias-finais! Mas esta derrota não muda nada na Alemanha: continuo a dizer que é, a par da Espanha, a grande candidata ao título na Rússia.

Momento "Gabriel Alves"
"Mas porque é que ele não chuta?!?!?!", em mais uma intervenção desastrada de "Chicharrito" Hernandez.

MVP

MIGUEL LAYUN

O jogador do FC Porto fez o melhor jogo que eu alguma vez o vi fazer. Na posição de médio interior direito de um triângulo que infernizou o meio-campo alemão, Layun esteve a par com Herrera o protagonismo na primeira parte. Recuperou bolas, fez a bola girar e ainda apareceu (ou tentou aparecer) a concretizar os lances na área alemã. Mas na segunda parte foi gigante! Se não fosse Layun, o México teria sido completamente esmagado pela pressão alemã, mas foi graças a ele que conseguiu respirar, meter a bola no meio-campo adversário, criar lances de perigo e obrigar a Alemanha a estar sempre a pensar "e se este gajo nos marca outra batata??!?!?!". Indubitavelmente uma das figuras desta primeira jornada da fase de grupos do Mundial!



17/06/2018

GRUPO C - PERU 0-1 DINAMARCA - KASPER PÔS PERÚ NAS CUEVAS


O Perú é a minha selecção fetiche para este Mundial, porque normalmente quando se apura é porque tem ao seu dispor uma geração de jogadores especiais. Foi assim nos anos 70, com a geração de Teófilo Cubillas, e é assim hoje, com Edison Flores, André Carrillo, Christian Cueva, Jefferson Farfan e de Paolo Guerrero.

As minhas perspectivas não saíram goradas, pois desde cedo o Perú partiu para cima da Dinamarca, com um futebol desconcertante, cheio de mobilidade e rapidez, mas que pecou durante a maior parte do primeiro tempo por falta de acutilância. Paolo Guerrero ficou no banco, provavelmente por não ter ainda "cabedal" para aguentar 90 minutos depois da inactividade forçada devido ao castigo por doping (além de já ser um senhor de 34 anos), e Jefferson Farfan não estava a conseguir dar peso ao ataque peruano contra as "vigas" da defesa dinamarquesa.

Apesar disso, a pressão do Perú foi enorme e só por volta da meia-hora de jogo a Dinamarca começou a conseguir sair para o meio-campo adversário. Christian Erikson esteve muito apagado o jogo todo e a Dinamarca ressentiu-se disso. O Perú tem então oportunidade soberana para adiantar-se no marcador, já na compensação do primeiro tempo: Cuevas é rasteirado na área e o VAR faz o que lhe compete, avisando o árbitro principal. No entanto, Cuevas intimida-se com o Schmeichel Junior na sua frente e atira a bola para Machu Pichu.

A Dinamarca soltou-se no início da segunda parte, porque estava mais organizada e porque o Perú acusou a oportunidade desperdiçada. O jogo ficou muito mais interessante, mais dividido, e apesar da bola passar mais tempo nos pés dos peruanos, a Dinamarca lançava ataques directos e precisos. Então, o Perú subiu as linhas e procurou reconquistar o domínio no meio-campo e isso foi-lhe fatal, pois descompensou-se a dada altura, permitindo à Dinamarca um contra-ataque em superioridade numérica que isolou Yussuf Polsen, que não falhou frente a Gallese, ao contrário de Cuevas e Farfan na baliza oposta. 1-0 para a equipa mais fria e com mais cabeça em campo.

Paolo Guerrero entrou logo em campo, tal como Ruidiaz, e o Perú sufucou a Dinamarca até ao último minuto. Nesse período, valeu aos dinamarqueses alguma sorte e muito Kasper Schmeichel! O filho do histórico gigante viking fez uma exibição brilhante que deu os 3 pontos à sua selecção! Foi uma mão cheia de defesas que mantiveram a bola fora das redes e desesperava mais e mais os peruanos, que a dada altura pareciam perceber que neste dia a bola não entraria de forma alguma.

 Paolo Guerrero deu de calcanhar e Schmeichel, mesmo em desespero, não lhe chegou... mas passou ao lado.

A Dinamarca vence um jogo contra a corrente, e o Perú saiu de Saransk como a equipa que todos querem ver jogar agora, pois certamente ganhou muitos fãs com a sua exibição. No entanto, a tarefa será dificílima a partir de agora, pois terão pela frente os tanques da Austrália e a favorita França para tentar conquistar pontos suficientes para chegarem aos 16 melhores do Mundial.

Momento "Gabriel Alves"

"Confesso que, apesar do mérito da Dinamarca no golo alcançado, se isto terminar assim para o Perú, eu ficarei um pouco triste", disse Alexandre Santos.

MVP

KASPER SCHMEICHEL
Parecia o pai! Com a direita, com a esquerda, com os pés, Schmeichel defendeu todas as bolas que os peruanos atiraram à sua baliza. Se na primeira parte apenas teve de desviá-las com os olhos, pois a pontaria dos peruanos estava desalinhada, na segunda parte teve mesmo de sujar a camisola a partir do momento em que a artilharia pesada sul-americana entrou em campo, e as bolas deixaram de ir ao lado e passaram a tomar o caminho das redes. Filho de gigante é gigante também!

15/06/2018

GRUPO B - PORTUGAL 3-3 ESPANHA - RONALDO FOI GALO NA CAPOEIRA DO TIO VAR ZAROLHO



Portugal teve um duríssimo teste contra a Espanha, num jogo em que tudo esteve prestes a correr muito mal, mas em que ficou mais uma vez provado que ter um Cristiano Ronaldo em forma é um bónus do catano! 

Portugal até entrou bem. Bom controlo de bola, jogando no meio campo espanhol e criando problemas à defesa adversária. Raphael Guerreiro passa para CR7 em desmarcação e o defesa espanhol chega atrasado. Penalti para Portugal! O capitão assume, não fica angustiado com a situação e faz o seu primeiro contra a Espanha e o quarto em outros tantos Mundiais de Futebol! Aos 4 minutos, Portugal estava na frente.

Como seria de esperar, a Espanha pegou no jogo, criou perigo mas Portugal não tremeu. Teve hipótese de fazer o 2-0, mas graças a um erro grosseiro do árbitro, com a conivência do VAR, a Espanha empata. O trabalho de Diego Costa é brutal, mas a cotovelada deste em Pepe também! Para isto, não vale a pena ter VAR... Portugal acusou muito o golo. A Espanha acossou-nos na nossa área e pouco conseguimos fazer. Até que naquele que terá sido provavelmente o único contra-ataque decente, Gonçalo Guedes oferece oportunidade de tiro a CR7. Depois, De Gea fez o resto: uma "peruzada" de todo o tamanho, um aviário inteiro dá novamente vantagem a Portugal.

Cristiano Ronaldo fez o seu primeiro hat-trick em fases finais.
 
A segunda parte começa com uma selecção portuguesa a não conseguir aguentar a pressão espanhola. Foi sem surpresa que os espanhóis viraram o resultado, primeiro com Diego Costa a finalizar na área e depois com Nacho a marcar uma golaça, num tiro a 25 metros da baliza que ainda bate no poste, sem qualquer hipótese para Rui Patrício. O desastrado Gonçalo Guedes, o esforçado Bruno Fernandes e o estoirado Bernardo Silva deram o lugar a André Silva, João Mário e Quaresma respectivamente, e pela ordem inversa. Durante muitos minutos "cheirámos" a bola naquela rabía chata dos espanhóis, mas Portugal teve o mérito de ir para o tudo-ou-nada, correndo atrás da bola até a recuperar. Depois, falta perto da área espanhola... e CR7 num livre primoroso rouba o golo do jogo a Nacho e empata a partida aos 88 minutos!


"Hat-Trick" do capitão em mais um jogo fantástico ao serviço da Selecção Nacional, o primeiro em fases finais! Deu o exemplo, atacou, defendeu, jogou e fez jogar, e foi dele o mérito de Portugal se manter em jogo. Quanto aos restantes, William foi o melhor do meio campo, onde Moutinho foi várias vezes ultrapassado e Bruno Fernandes não conseguiu explanar o seu futebol. Como receava, Gonçalo Guedes não foi o melhor parceiro de Cristiano, principalmente porque pareceu acusar a responsabilidade da titularidade contra a Espanha. Teve duas oportunidades isolado para rematar, mas intimidou-se, deu mais um toque do que devia, e quando tenta passar (e não rematar) perde a bola. Para mim, André Silva continua a ser a melhor opção. Cedric penou muito também porque Bernardo é "levezinho" a defender.

No fundo, o empate não é um mau resultado. Portugal tem agora de cumprir a "obrigação" de vencer contra Marrocos para no último jogo defrontar com alguma calma a selecção chata do Irão, comandados pelo chato do Carlos Queirós, que depois da vitória de hoje irá apostar numa toada do "eu posso perder mas tu não ganhas"!

Momento "Gabriel Alves"

"O Duelo Ibérico apaixona corações, e será Cristiano Ronaldo que dará início à partida. Portugal sairá com a bola!!"
Pontapé de saída é dado pela Espanha.

MVP

CRISTIANO RONALDO
É já o melhor marcador do Mundial 2018. Três golos, com o terceiro a ser uma obra de arte! Soube comandar os seus colegas de equipa e evitar que a equipa entrasse em depressão enquanto corriam todos atrás da bola na rabía que os espanhóis impuseram quando se viram em vantagem no marcador. Um capitão faz-se também disto. Há 10 anos critiquei muito darem-lhe a braçadeira, pois era apenas um miúdo. Hoje, é capitão de corpo inteiro, não só de braçadeira. Brilhante!

14/06/2018

GRUPO A - RÚSSIA 5-0 ARÁBIA SAUDITA - SURPRESAS SEM SURPRESA


Os jogos de abertura dos Mundiais (e Europeus) são por norma uma seca. Em ambas as equipas é usual o medo de entrar com o pé esquerdo prevalecer sobre o facto de uma vitória ser um bom prenúncio do desejado apuramento para a fase a eliminar. Poucos são os jogos em que há bastantes golos e o resultado mais normal é o empate. Quando alguém ganha, por norma é por 1-0.

Curiosamente, o Mundial da Rússia abre com uma "cabazada" das antigas, imposta pelos anfitriões à Arábia Saudita. Essas são, para mim, as surpresas: o facto de a Rússia ganhar um jogo pela primeira vez desde Outubro, o facto de ser por 5-0 no jogo de abertura, e por ser contra a Arábia Saudita, que ainda no domingo passado até tinha dado boas indicações contra a Alemanha, no particular que realizou já em solo russo.

Porém, as fragilidades dos árabes não disfarçam uma coisa: estas são, na minha opinião, as duas selecções mais fracas do Grupo A. Para mim, o Uruguai será primeiro e o Egipto é o grande candidato à outra vaga para os oitavos-de-final. Os árabes desiludiram-me de sobremaneira, pois no jogo com os Campeões do Mundo demonstraram saber o que fazer com a posse de bola, ser pressionantes sobre o portador da bola e sair rapidamente, e com critério, no contra-ataque. Hoje, apenas tiveram posse de bola, completamente inconsequente. Além disso, a defesa foi um passador, não de farinha mas de rochas basálticas para fazer estátuas.

Cherishev marca um golaço... em que o Video Árbitro fez vista grossa a um fora-de-jogo no lance.

Quanto aos russos, apesar da vitória comprovaram mais uma vez o que eu suspeito deles: têm até alguns bons jogadores, a começar pelo excelente Igor Akinfeev, guarda-redes do CSKA, o veterano Zhirkov, Dsagoev e Smolov. No entanto, além de Smolov hoje estar completamente parvo e não acertar uma (ok, no segundo golo tem uma excelente intervenção... deixando a bola passar por baixo das pernas), perdeu Dsagoev por lesão muscular, o que não é bom agoiro, porque o resto da equipa tem uma qualidade muito mediana, com excepção talvez para Dzyuba e Golovin. Muitos passes perdidos, bolas chutadas para a frente sem critério, falhas constantes na transição ofensiva, isto e muito mais foram o reflexo de um jogo em que a vitória expressiva encobre a realidade do futebol russo.

É certo, e já se viu anteriormente, que uma vitória gorda pode ser fulcral para um apuramento, como Portugal fez contra a Coreia do Norte em 2010, e a Rússia tem já esse trunfo na mão. O jogo da segunda jornada com o Egipto será fundamental para o apuramento de ambas as selecções, pois julgo que será aí que praticamente tudo se decidirá. Se o Egipto sair atrás da Rússia, poderá ser muito complicado para os africanos.

Momento "Gabriel Alves"

"A Arábia Saudita mantém a posse de bola, mas já se viu que de nada serve pois não chega á área, não cria qualquer chance de golo e..."
"Cruzamento para a árEAAAAA E... OH quase o golo dos árabes!"

MVP

CHERISHEV 
Dois golos de belo efeito, o segundo é mesmo um golaço de trivela, com alguns truques inconsequentes e fintas para mandar a bola pela linha final que entreteram a malta e provocaram umas gargalhadas saudáveis foram os argumentos de um jogador que, se for mais objectivo, tem tudo para ser uma bela surpresa deste campeonato.

13/06/2018

AÍ ESTÁ O MUNDIAL DE FUTEBOL!!!


Amanhã começa o Campeonato do Mundo de Futebol 2018. Como sabem, eu tenho um gosto especial por estas competições de selecções, onde ainda está o último resquício de futebol romântico, onde os fracos se fazem fortes e onde as lendas se criam.

Na Rússia não será excepção, se bem que um Mundial sem a Itália para nós podermos dizer "lá estão eles com o Catenaccio" perde alí qualquer coisa... É, sem dúvida, a maior ausência no calendário. De resto está lá tudo para apimentar um início de Verão e fazer do próximo mês mais um período apaixonante para aqueles que gostam de futebol.

A Selecção Portuguesa está presente, como vem sido hábito. É apenas o seu 7º Mundial, mas agora com uma responsabilidade acrescida: o escudo de Campeão Europeu ao peito. Quer queiramos quer não, esse epíteto vai ter de pesar nas costas dos nossos jogadores, que têm uma imagem a defender. Tirando isso, temos claramente melhor selecção que em 2016, com mais e melhores opções em cada sector, sendo no entanto o centro da defesa aquele que me causa maior preocupação, pois são jogadores muito experientes, mas também com alguma veterania. No meio campo está a virtude, com as entradas de Bruno Fernandes e Bernardo Silva, por troca pelo lesionado Danilo (que faz muita falta) e do perturbado André Gomes. No ataque, sai Nani e entra Gelson, sai Éder e entra André Silva, sai Rafa e entra Gonçalo Guedes. E claro, está lá o Bola de Ouro, com uma época em gestão de esforço! Estão lá os que estão melhores neste momento, e isso é que importa.

Depois, vem a parte do jogo em sí. Continuamos a jogar com consistência, eficiência e eficácia, mas não temos aquele estilo de jogo envolvente e apaixonante que nos faz sonhar. Mas na óptica de Fernando Santos, se não sofrermos golos é meio caminho andado para não perder o jogo. Ok, está certo, inegável... mas puxa, um bocadinho de paixão naquela máquina não fazia mal nenhum, e a verdade é que até tem jogadores para jogar mais bonito!

Para mim, o patamar em nada muda face aos anteriores eventos deste género: passar a fase de grupos e depois é o que vier. Somos candidatos a ganhar? Numa segunda linha, conforme a sorte ditar os duelos e se conjugarem os factores ideais, sim. Somos favoritos? Epá... somos mais favoritos que o Irão, mas de momento Alemanha, Espanha e Brasil estão na frente das apostas. Depois vem ali uma segunda vaga com Bélgica, França, Uruguai, Argentina, Inglaterra e que inclui também Portugal. Por isso, acho que chegarmos aos 1/8 de Final é o mínimo, chegar aos 1/4 de final é sinal que somos uma das 8 melhores selecções do Mundo, e por isso é uma boa performance. Tudo o resto é ganho!

Estarei aqui a contar-vos a minha visão dos jogos e dos protagonistas, factos e curiosidades dos jogos. Tenho sinceramente pena é de ter perdido hoje uma das minhas maiores motivações para escrever: Lopetegui foi despedido da Selecção Espanhola, no imediato, e não poderei por isso fazer dele o meu saco de pancada predilecto. Lá terei de arranjar outro à pressão...

Para finalizar, dizer que tenho particular curiosidade em assistir aos jogos da Islândia e do Panamá, ao mesmo tempo que tenho uma "fezada" num bom campeonato da parte do Perú. São as equipas que vou seguir com mais atenção neste Mundial.

04/03/2018

SERÁ O FIM DO "EFEITO ÉDER"?!


Durante dois anos, tudo foi maravilha!

Tudo começou com um golo do Éder, que deu o título europeu de futebol!

Depois, foram as medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio.

Depois, os turistas a abafarem Lisboa, vindos em cruzeiros, charters, automóveis ou comboios, seja para encher hotéis ou para casas AirBnB que em tempos foram habitadas por velhinhas castiças nos baixos de Alfama e Madragoa.

Depois, veio o FMI dizer que tudo estava no bom caminho depois da crise, depois do Paços Coelho ter dito que não havia outro caminho para a sua resolução, e depois também de ter dito que o novo caminho do Governo apoiado pelas Esquerdas (a famosa "Geringonça") ia falhar porque o Diabo vinha aí... e não veio... e Pedro Passos Coelho foi-se, porque não resistiu a mais uma previsão falhada...

Depois, foi o Salvador Sobral a ganhar a Eurovisão. Este sim é o exemplo claro que os astros estão todos do nosso lado, pois ATÉ GANHÁMOS A EUROVISÃO!

Depois, veio a Standard & Poor's aumentar o rating da nossa dívida, ficando a mesma acima do nível de "Lixo", o que foi mais uma chapada em Pedro Passos Coelho que o mesmo entendeu antes como uma medalha sua.

Depois, foi novamente a bola a dar-nos uma alegria! Portugal ganha o Campeonato da Europa de Futsal, contra a eterna campeã Espanha por 3-2! Parecia uma reedição do Euro 2016, com Ricardinho lesionado a ver o golo da vitória no banco.

E eis que chegam as eliminatórias para o Festival da Canção 2018, de onde sairá a canção de Portugal para o Festival Eurovisão a realizar-se em Lisboa. E estou preocupado...

Estou preocupado, porque tenho medo que os turistas se vão embora, que o Governo meta água, que os mercados achem que está tudo mal e com o Passos Coelho regresse dos mortos políticos!

Houve duas eliminatórias do Festival da Canção. Na primeira, a RTP pede mil desculpas mas enganou-se na contagem, e por isso uma das cantoras que fez a festa teve de meter a viola no saco na secretaria. Na segunda, o Diogo Piçarra ganha com larga vantagem, é aclamado por todos como o maior e o mais lindo, mas descobre que a IURD tem uma música parecida gravada em 1979. Pinta a cara de preto, fica desolado por ter tido a mesma ideia musical de um pastor, e desiste. Mais uma concorrente que chorava baba e ranho no fim da eliminatória em directo é resgatada na secretaria.

Ou seja, receio que com a Eurovisão esteja-se a acabar o efeito Éder. E isso é particularmente chato em ano de Mundial de Futebol. Como se isso não bastasse, 90% das canções do Festival são estilo as do Salvador e da sua irmã Luísa, e isso é por si premonitório do grande e redondo ZERO no Eurofestival, com a justificação de os portugueses terem falta de imaginação, mas de serem originais face aos chineses pois ao menos fazem cópias baratas deles próprios.

Ah, no meu tempo é que isto tinha graça... Com o Paião e o "Playback"... Isso é que eram tempos...

14/02/2018

LIÇÃO PARA POMBINHOS: O DINHEIRO NÃO TRAZ FELICIDADE.



Muitos saberão, mas convém esclarecer os mais incautos: é verdade que alguns futebolistas ganham dinheiro ao mesmo ritmo e nas mesmas quantidades como quem bebe 5 litros de água por dia vai à casa de banho urinar. No entanto, a maioria dos jogadores de futebol ganha o suficiente para uma vida normal, sem Ferraris, sem mansões nas arribas do Algarve, sem apartamentos em cada uma das capitais europeias e sem férias pagas no Dubai pelo xeque. Eu sou um desses "desgraçados" que faz o que gosta e ganha o salário de um trabalhador normal. Sim, ou achavam que ganhava pouco menos que o CR7? Se ganhasse isso tudo, ainda estava a jogar aos 41 anos porquê?!

Esta nota introdutória serviu para vos situar na conjuntura desta história que poderia parecer à primeira vista uma coisa bizarra: futebolistas a falar do Euromilhões.

Pois bem, ontem havia jackpot de 138.000.000€ e a conversa no balneário após o treino era precisamente o que cada um de nós faria com esse dinheiro todo. A maioria alinhava na opção mais regrada: garantir o bem estar da família próxima, comprar casa e carro mas sem cair na estupidez e depois pegar na maior parte da quantia e pôr a render juros (prazo ou à ordem não interessa, pois percebeu-se que por muito pequena que fosse a taxa de juro o retorno dava para se viver o dia a dia que nem heróis), fazendo uma vida de relax.

Eis quando o Lopes, nosso centro-campista mais criativo, diz algo que lançou a discussão: "Eu não precisava de 138.000.000€ (eita número grande pa' caraças!). Se me dessem um milhão, deixava já de jogar e fazia o resto da minha vida de papo para o ar, a fazer apenas e só o que eu quisesse."



Ficou tudo a olhar para ele. Estamos a falar de nove dígitos e o gajo contenta-se com uma gorjeta digna da tasca da esquina? E ainda afirma que com isso tinha a vida feita? A gozação começou após um ligeiro silêncio de surpresa, pois ninguém acreditava que tal fosse possível. E depois de ouvir os previsíveis "o Lopes só come alface, por isso vive bem assim" e "o Lopes como já andou de Metro em Lisboa sente-se um homem realizado" e ainda "o Lopes desde que viu o Túnel do Marquês, já nem quer ir à Ilha da Madeira porque dizem que o túnel é mais bonito", eis que o Lopes diz:

"Mas vocês já fizeram as contas para saber se daqui até à reforma ganham 1.000.000€? É que na verdade não ganham..." 

Novo silêncio... E depois, foi tudo a sacar da calculadora, para perceber quantos ordenados anuais eram precisos para fazer 1.000.000€. Entre todos, percebemos que demorariamos entre 30 a 45 anos a conseguí-lo, com os ordenados actuais. Assim se abria a caixa de Pandora: não era preciso uma fortuna imensa para se poder viver sem fazer a ponta de corno!!! Era só preciso que nos saísse o Milhão ou uma cautela da Lotaria e depois continuar a viver a nossa vida como até hoje, sem luxos! Estávamos tão felizes... até falar o Joaquim, o roupeiro: "Vocês estão redondamente enganados. A vida é mais dura do que vocês pensam, e nunca poderiam viver de papo para o ar com um mísero prémio de 1.000.000€!" Virámo-nos todos para o Joaquim e começámos todos a esgrimir argumentos. Eu, talvez por ser o capitão de equipa, acabei por tomar as rédeas do discurso de quem defendia que sim, era possível mandriar o resto da vida com 1.000.000€.



- Oh Quim, eu também não acreditava, mas o Lopes obrigou-me a fazer as contas!
- Estão mal feitas!
- Não estão nada! Repara: se dividires o 1.000.000€ pelo teu rendimento anual, terás o número de anos que precisarias de trabalhar ainda, e isso ultrapassa claramente a nossa reforma.
- Mas as despesas não serão sempre as mesmas!
- É verdade, mas mesmo com os juros a uma bosta como estão actualmente, se metermos 1.000.000 a prazo num banco, com uma taxa anual de 3% temos 30.000 € em retorno. Muitos não têm esse rendimento anual.
- Olha lá uma coisa... começa logo com o facto que um prémio de 1.000.000€ não te dá 1.000.000€, mas sim 750.000€ graças ao IRS sobre os prémios de jogo.

Era a primeira chapada bem assente no nosso sonho, que nos fazia acordar para a realidade. A segunda foi logo de seguida:

- Depois, as vossas mulheres iriam logo exigir uma casa nova. Logo! No imediato!
- Eh, calma lá!! Vamos lá esclarecer as coisas!
- Strik3r, era a primeira coisa que a tua mulher diria: estoirar tudo numa vivenda T4!
- Nanana! Isso não pode ser! Então e a manutenção, com os rendimentos actuais?! E o desgaste do carro a vir para os treinos lá de Trás do Sol Posto para aqui? Quanto muito, pagava a actual hipoteca!
- Não! Casa NOVA! Se não fosse vivenda T4, era apartamento T3, mas casa NOVA!
- Não pode! Ela iria perceber que era uma má decisão!
- Como convencerias tu uma mulher que a ideia dela era uma má decisão?
- Simples, ia colocar à consideração dela: ou tinha casa nova e esfalfa-se a trabalhar como agora para a manter, ou ficava na nossa linda, doce, velha e pequena casa, mas com vida de raínha a não fazer pevide!

Nesse momento, o nosso preparador físico Fabinho toca-me no ombro e diz as palavras mais sábias que ouvi até hoje com sotaque brasileiro:

"Cara, deixa disso. Dinheiro não traz felicidade. Você ainda nem ganhou nada e já está discutindo com sua mulher. E ela nem está aqui, viu?!?!"


Em suma, o dinheiro é a principal razão para os divórcios, porque se não há guito, o pessoal não come, fica irritado, discute e pumba, divórcio. Se há muito, não sabem no que querem gastar, depois cada um quer gastar nas suas coisas, discutem e pumba, divórcio litigioso com a maquía apreendida até ordem do tribunal. Se há o suficiente para uma vida regrada, fofinha, sem maluquices, luxos e viagens malucas, com trabalho e sacrifício, mas se sonha em ter isso tudo sem fazer nenhum e tornarmo-nos num parasita da sociedade sem a parte da delinquência, estamos na barra do tribunal para nos divorciarmos em litigioso e o nosso cônjuge nem sequer sabe disso ainda!

A vida é dura. Há sempre alguém a estragar os nossos sonhos!



06/02/2018

O ROCK NÃO ESTÁ MORTO, MAS HÁ QUEM QUEIRA A MORTE DO ROCK!

  Foto de Jeff Yeager - metallica.com

Foram 8 anos a separar as minhas duas últimas visitas a um concerto dos Metallica. Depois da World Magnetic Tour de 2010, um novo álbum e a minha inevitável peregrinação ao MEO Arena, para o concerto que acabava com o maior hiato de concertos dos Mestres do Metal ao nosso país, pois a última visita tinha sido em 2012, na Tour de comemoração dos 20 anos do comummente conhecido como "Black Album".

Do concerto, tenho a dizer que de 2010 para cá o antigamente denominado Pavilhão Atlântico já mudou de nome mais duas vezes, mas a acústica mantém-se sofrível, com a diferença que para este, soube entretanto, baixaram o volume dos instrumentos. Bem me parecia. Para evitar que os ouvidos da malta sofressem com a ressonância, perdemos os "baixos" a bater na barriga e parecia que estávamos longe, ou então fora do pavilhão com eles a tocar lá dentro. Não sei se ficámos a ganhar com a situação, honestamente, porque já estava a contar com a ressonância (que se manteve) e fiquei desmoralizado com a falta daquele primeiro impacto que normalmente Metallica provoca quando entram em acção! Era suposto a gravação do início de "Hardwired" terminar e levarmos com o som ao estilo de uma rajada de vento que nos desmancha o cabelo.

 Foto de Brett Murray - metallica.com


Isso não aconteceu e foi pena, porque se o som estivesse à altura tinha sido um concerto memorável. Assim, foi só muito bom! Alinhamento bem escalado, com aposta forte em "Hardwired... To Self Destruct" e nos primeiros cinco álbuns. Foram duas horas e meia numa viagem pelo melhor que os Metallica fizeram na sua carreira. Começaram com dose dupla de "Hardwired...", terminaram com dose dupla de "Metallica". Depois, 15 minutos a despedir dos fãs, algo que a banda sempre teve o cuidado de fazer: de alimentar essa empatia com quem os segue e tudo faz para estar presente nos seus concertos.


Um dos momentos inesquecíveis foi a homenagem feita ao Zé Pedro por Robert Trujillo e Kirk Hammet. O baixista começou a tentar cantar em português, mas não precisou de muito esforço pois rapidamente a sua voz foi engolida pelo retorno do público, e aí libertou-se e cantou com emoção uma coisa parecida com a letra original. Foi um momento tão surpreendente como comovente.

Foto de Jeff Yeager - metallica.com


Tenha sido um momento de espectáculo racionalmente preparado ou uma homenagem sentida a um dos tipos da família do rock, este facto colocou os Metallica como notícia no país. Rádios, TV's e jornais, ninguém ficou indiferente. E todo este fuzuê levou à inevitável reflexão: afinal, o heavy metal em particular, e o rock em geral, está morto?

Assisti a um concerto num pavilhão cheio com 18 mil almas rockeiras, literalmente dos 8 aos 80 anos de idade. Pearl Jam esgotou em menos de nada, Iron Maiden está quase esgotado, e este ano ainda há Muse, Queens of the Stone Age, Megadeth, Machine Head, 30 Seconds to Mars, Marilyn Manson, Ozzy Osbourne, Stone Sour e até U2!! Este é o panorama de concertos rock e metal de 2018, num país em que não há uma única rádio rock (ou que passe rock em horário nobre) de abrangência nacional.

 Foto de Brett Murray - metallica.com

O Rock, evidentemente, não está morto. Mas a pergunta impõe-se: está vivo até quando? Estas bandas que enumerei são constituídas por quarentões, cinquentões ou mais velhos ainda, que não viverão e muito menos tocarão para sempre. E se nem estes monstros do rock têm espaço no FM para tocar, como poderão os potenciais novos valores de verdadeira música meter a cabeça de fora e gritar "estou aqui" por entre todo o plástico latino e kizombeiro que navega nas nossas rádios?

Apesar de algumas surpresas interessantes, os Grammys premiaram Leonard Cohen como artista rock, numa imbecilidade só superada pela nomeação de Beyoncé no ano passado para a mesma categoria. A cerimónia oficial, transmitida para todo o mundo, foi um desfilar de triste mediania onde impera o hip-hop, longe dos tempos áureos onde pontificavam Fugees e Eminem, e se glorifica o pimba com "Despacito". Coitado do Luis Fonsi que não tem culpa e aproveita para esfregar as mãos de contente, mas quem está certamente muito chateado com tudo isto serão Lucenzo, Rui Bandeira, Toy e outros que vivem da música popular e não tiveram o mesmo reconhecimento sequer para os Grammys Latinos, quanto mais para os "mundiais". Foi a cerimónia onde Ed Sheeran foi nomeado para apenas uma categoria. É certo que o último não é dos melhores trabalhos do cantor pop, mas o pior single de Ed Sheeran vale mais musicalmente que qualquer êxito de Rihanna. Os Nothing More ou os Foo Fighters, com duas das melhores músicas do ano a concurso, não tiveram direito sequer a uma pequena participação na cerimónia. Nada! Se o rock não passa nas cerimónias mais importantes da indústria da música, onde pode passar?!

Foto de Jeff Yeager - metallica.com

A Rádio Comercial e a RFM monopolizam o FM de Lisboa, com transmissores de alta potência e repetidores de sinal espalhados pela cidade, que permite que as suas emissões sejam ouvidas até nos túneis. Fizeram muito alarido de os Metallica terem cantado Xutos, porque interessa, sabem que venderia publicidade, sabem que geraria audiência, mas não se dignaram a dizer sequer "hoje à noite, os Metallica tocam no Altice Arena" no dia do concerto. A Super FM fechou as transmissões FM por não conseguir angariar publicidade, porque a rádio só passava música de "drogados cabeludos e cheios de tatuagens", como um director comercial de uma empresa afirmou ao Rui Miguel Santos, líder da rádio. A 105.4FM Cascais resiste sabe-se lá como, possivelmente graças à capacidade organizativa de eventos que vão dando para garantir os tão vitais apoios financeiros. Para qualquer um dos dois casos mencionados anteriormente, a audiência de stream ou nos ISP nacionais, que transmitem as rádios nas suas plataformas digitais e boxes de televisão, vale ZERO para angariar publicidade e sponsors de programação.

O rock não está morto, mas parece que o querem matar. Lentamente, como quem aguarda que um velho se apague por falta de comida, porque a realidade é que o rock é inconveniente, é irreverente, é rebelde e foi a peça chave para a consciencialização das sociedades. Não será a kizomba, o kuduro ou o reggaeton que irão por as pessoas a pensar, e não será certamente este hip-hop da moda, o hip-hop das "bitches", das "pieces", das "bullets to the brain" e dos impropérios sem sentido que fará a diferença na luta pelo fim do racismo e segregação racial. Este hip-hop é precisamente o que interessa para que o racismo continue implantado.

 Foto de Brett Murray - metallica.com


É um problema do rock, do metal, mas essencialmente da generalidade da música. Goste-se ou não de Salvador Sobral, em termos musicais, de personalidade ou de postura face ao mundo do espectáculo, tem toda a razão quando diz que a música não é luzes, fogos de artifício e miúdas desnudas. É giro dançar uma parolice qualquer numa festa, e a música de festa também tem o seu lugar nas nossas vidas. Não tem de ser nem deve ser levada ao colo para a apoteose quando no fim se espreme aquilo e nada sai. Mas também é preciso dizer que a música não tem de ser só amor, paixão, desencontros e sofrimento de perda, porque não foi só disso que se fez a história da música. A música também se fez de sonhos, pesadelos, drogas, feitiços, lutas de rua, guerra e um sem fim de outros temas, mas sempre com a melodia que, por si só e retirando a letra, produz emoção nas pessoas.

PS: nem me debrucei sobre a prespectiva das televisões temáticas de música, porque apesar de ainda termos a abrangência musical na VH1, temos uma MTV que não passa música, nem boa nem má...