10/12/2018

O CAPUCHINHO CORRECTO

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Esta semana passámos a saber que a PETA deseja que os provérbios com uma pretensa carga de violência sobre animais sejam alterados para uma outra expressão muito mais amiga dos bichos e cujo sentido se mantenha. Em vez de matar dois coelhos de uma cajadada só, passaríamos a pregar dois pregos de uma martelada só.

Muito bem... Sou só eu... ou mais alguém acha que isto está a chegar a um ponto simplesmente ridículo?! Porque na realidade, quando se pega um touro pelos cornos, quem se aleija: o touro ou o desgraçado (ou maluco) que leva com o bicho, tenha a pessoa muitas ou nenhumas lantejoulas vestidas?! Ok, apanhar a rosa pelos espinhos pode à partida parecer que tem igual sentido, não fosse o facto de num cenário fora da tourada, num meio selvagem, em que uma pessoa se vê numa situação de ataque por parte de um bovino, caso não se tenha um árvore à qual subir, pegar o bicho pelos cornos pode ser mesmo a única solução de legítima defesa. Já apanhar as rosas pelos espinhos só pode significar duas coisas: estupidez ou masoquismo.

O politicamente correcto está a atingir níveis estapafúrdios, com qualquer coisa a causar a maior das indignações num grupo qualquer pelas razões mais insignificantes. Entendo que o piropo javardola deve ser punido, mas há imensos artigos de opinião que colocam em causa qualquer acto ou expressão que um homem use para abordar uma mulher. Por exemplo, segundo as opiniões expressas em algumas publicações, um tipo solteiro num cargo de chefia sentirá sérias dificuldades em confessar a sua paixão por uma colaboradora da sua equipa sem correr o sério risco de ser acusado de assédio sexual no local de trabalho, porque a fronteira entre a corte e o uso de uma posição de poder está tão esbatida que se torna confusa. Logo, o desgraçado está condenado a partir o coração e a dedicar o seu tempo ao Tinder.

Fez há umas semanas 12 anos que vos contei a história do Capuchinho Vermelho numa versão alternativa. Como é uma história que gosto particularmente e que tenho um prazer especial em desconstruir, terei de adaptar este conto à nova onda, cumprindo principalmente com os parâmetros de inibição da violência sobre animais, obviamente.

O CAPUCHINHO VERMELHO CORRECTO

Era uma vez uma cidadã chamada Capuchinho Vermelho. A Capuchinho Vermelho vivia com a sua mãe numa bela casa. Certo dia, a mãe disse à Capuchinho Vermelho:

- Oh Capuchinho, preciso que vás a casa da tua avó levar estes bolos, pois ela está muito doente. Só te peço isso porque já és maior de idade e tens actividade aberta nas Finanças, sendo este favor obviamente remunerado segundo as Leis do Código do Trabalho, evitando assim qualquer tipo de exploração ou trabalho infantil. E não te esqueças de não falar com desconhecidos e ires sempre pelo trilho dos Bombeiros.

E a Capuchinho Vermelho lá foi pela estrada fora. É então que aparece o Lobo Mau e lhe pergunta:

- Olá, menina! Onde vais com tanta pressa!
- Ou segues o teu caminho ou eu juro que apresento queixa de ti por assédio sexual!!
- Mas... mas... mas eu só perguntei onde ias e...
- Eu não tenho que estar disposta a ouvir um gajo que não conheço de lado nenhum a chamar-me menina de forma lasciva a cada esquina!
- Olha lá, mas tu tens noção que eu sou um lobo, não tens?! Fêmeas carecas, bípedes e com apenas um par de mamas não é muito a minha onda, ok? E seria contra as leis naturais.
- Ok... pronto, por esta passa e levarei em consideração que apenas estás curioso sobre o meu trajecto. Vou a casa da minha avó, levar estes bolos.
- Ah, muito bem. E têm gluten?
- Não, tudo sem gluten.
- Mas fizeste com leite de vaca!
- Não, leite de soja!
- Ovos?
- Zero.
- Açucar refinado?
- Frutose dos morangos usados no recheio.
- Ah... ok... E vais a pé, para não emitir CO2, muito bem... O cesto, de plástico?
- Verga.
- Sim senhor, muito bem... Então, visitar a avozinha, não é?
- É.
- Ok... 
- Pois...
- Adeus.
- Adeus.

E lá foi cada um para seu lado... mas o Lobo seguiu pelo meio da floresta e chegou mais rápido a casa da avó. Chegado lá, chamou a carrinha do Centro de Dia para a levar para um dia bem passado a jogar damas, porque comer a avó, além de ser uma carga calórica proibitiva, era inconcebivelmente violento.

Mascarou-se de avó e meteu-se na cama.

Quando a Capuchinho Vermelho chegou, bateu à porta para avisar que ia entrar.

- Avó, cheguei!!
- Olá, minha querida! Não me dês beijinhos pois podes ficar traumatizada para o resto da vida.
- Oh avozinha, estás melhor?!
- Estou, claro que sim, agora que estás aqui ao pé de mim.
- Oh avó, porque é que tens as orelhas tão grandes?
- Olha lá, nunca ouviste falar de body shaming? Queres gozar comigo só porque sou velha?!
- Não, nada disso! Bom, esquece... Trouxe-te bolinhos!
- AHHH QUE BOOOOOOMMM!!! - ruge o Lobo, libertando todo o seu lado animal, salivando e abanando a cauda num misto de satisfação e excitação, tal era o seu desejo de provar aqueles bolos véganos.
- AIIIIIII!!! SOCORRO!!!! A MINHA AVÓ FOI VÍTIMA DE ROUBO DE IDENTIDADE!!!

Um lenhador que se encontrava alí perto ouviu os gritos da Capuchinho Vermelho e correu imediatamente para a ajudar.  Não matou o Lobo com o machado porque se trata de uma espécie protegida, mas esteve a atirar-lhe uma bola para ele ir buscar até as autoridades o levarem para uma reserva protegida. 

Moral da história: se os sapatos da Capuchinho Vermelho são de cabedal, quem é o verdadeiro vilão desta história?

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