03/10/2006

TIPICAMENTE PORTUGA...

Lá me vou levantando a custo, como se tivesse levado uma traulitada daquelas. Limpo os restos de relva que estão espalhados pelo meu equipamento e corpo. É nesse momento que se levanta um alto alvorço na bancada sul, mesmo junto à baliza onde me encontro: um miúdo, por sinal adepto da minha equipa, saltou o fosso para o muro interior e pôs-se a acenar com uma bandeira. O problema gerou-se quando um grupo de seguranças chegou ao pé dele e o agarrou!

Epá, faz-me urticária estas coisas! Está tudo a refilar e a assobiar os seguranças por terem detido um gajo que ultrapassou a fronteira. "Não 'tava a fazer mal nenhum, pá!!!!! O puto 'tava «sossugado», pá!! Palhaços, pá!!!!!" - eram as palavras de ordem gritadas por um homem da bancada. Claro que os seguranças não ligaram nenhuma nem a ele nem ao resto dos adeptos, que atiravam tudo quanto era tralha para cima dos homens. Curiosamente, quem levou com uma garrafa em cheio na môna até foi o "chavalo", que ficou até meio abananado.

Este caso fez-me lembrar do sítio onde um amigo meu trabalha. Um belo parque industrial com largas avenidas para circulação de ligeiros e pesados sem problemas, com parques de estacionamento e limite de velocidade de 30 km/h. A empresa dele é o pleno exemplo do típico portuga.

Primeiro, começa logo com a forma como o edifício foi concebido. Um complexo em "U" com 150 metros de comprimento e 80 de largura e parque de estacionamento privativo e todo o complexo ocupa dois lotes do parque. Até aqui tudo bonito. Mas é aqui que entra o "portuguesismo". Bute fazer o prédio? Bute. Ocupa-se este lote. E agora? Ah, agora o parque de estacionamento!! Bute!!! Ocupa-se este agora. Epá... ora porra!... Atão não é que a entrada do edifício fica a 150 metros do parque??

Pois é... Para ficar bonito, a entrada do edifício (única) fica imponentemente junto à avenida principal, com o parque de estacionamento nas traseiras, para não manter a armonia. Só que ninguém no seu perfeito juízo vai andar 150 metros encostado a uma parede cheia de portões de descarga num descampado ventoso! No Verão até é bom para o bronze mas... e no Inverno??? Já para não falar que quem entrasse às 9:00 tinha que parar o carro no parque às 8:45...

Bom, aquí entra o Portuguesismo - Parte 2. É a parte em que a malta começa a usar aquela característica tão lusitana e que se apanha pelo ar respirado directamente das bostas de burro ou ao comer-se cozido à portuguesa: o desenrasca. Ora o pessoal arranjou logo solução para estacionar os carros sem ter de andar 150 metros (no mínimo) até à porta. Para tal, simplesmente invadiu o parque de estacionamento de pesados que havia do outro lado da rua, mesmo em frente à entrada principal (e única) da empresa. Ah, isso é que foram dias... A chegar e ter lugar quase quase à porta do escritório, quem deseja melhor?

A Administração do Parque Industrial até compreendeu o problema, e como tal, decidiu ceder a metade norte desse parque para os trabalhadores da empresa, ficando com liberdade para usar o abandonado parque privativo das traseiras para encaminhar alguns pesados para estacionarem lá. Tudo então ficou maravilha...

Maravilha até ao dia em que o Chico Esperto achou que 3 metros era um espaço demasiado grande para se andar a pé... Então, o Chico, quando chegava e verificava que a primeira fila estava cheia, em vez de ir pôr o carro na segunda, simplesmente parava o carro sempre ao lado do último daquela fila. Ou seja, chegou-se a um ponto que a entrada do parque, a meio do enorme rectangulo que alberga normalmente 60 camiões em espinha em 3 paredes (15 em cada uma das larguras e 30 na parede oposta à entrada, estar coberta por carros! Se um ligeiro ainda podia passar para trás jeito de gincana, um pesado não passava de certeza...

Lá se foi o parque para o galheiro. O parque industrial proibiu qualquer ligeiro de voltar a estacionar naquele local, alegando que havia parques para ligeiros espalhados pelo restante recinto, não muito longe daquele local. E efectivamente, nas "traseiras" do parque de pesados, separado apenas por um passeio de piões, estava toda uma avenida com lugares para estacionar... Só que o Zé Portuga não se deixa ir nestas coisas! Qual quê??? Eu, andar 20 metros a pé??? Nem pensar!!!! Resumindo: passou a usar uma das supostas faixas de rodagem da avenida em frente ao edifício onde trabalha para estacionar, e aquilo que outrora era uma avenida de 4 faixas passou a ter apenas 3... Os que chegaram depois, que entraram mais tarde, recomeçaram a usar o parque de pesados, pondo os carros junto ao passeio do lado de dentro, seguindo o exemplo dos que põem do lado de fora... Há ainda aqueles que põem o carro em frente à porta de acesso à central eléctrica, porque "só muito de vez em quando aparece alguém"! Claro é que houve um dia que todo aquele segmento do parque industrial ficou sem luz durante 3 horas, porque o carro que estava estacionado em frente ao portão era de um estafeta que estava em serviço para os lados de Santarém e o carro da EDP não pôde entrar no recinto da central...

E já houve também o caso da senhora que ficou com o carro todo espatifado, porque um camião em manobras deu-lhe com um contentôr em cima. O seguro não pagou porque o carro estava estacionado numa via de trânsito, entrou com uma pipa... mas o carro, da última vez, estava lá, no mesmo sítio, no meio da estrada.

Bicho estranho, o portuga... será que se eu cuspir no gajo que me fez a falta e depois disser que foi um espirro por causa da cacimba, o shôr árbitro acredita? Bom, posso sempre reclamar a seguir...