21/06/2021

EURO 2020 - GRUPO F - PORTUGAL 2-4 ALEMANHA - O PROBLEMA NÃO É PERDER COM A ALEMANHA, É COMO SE PERDE COM A ALEMANHA

 



Lembram-se do que falei sobre o jogo com a Hungria? Que o meio campo não permitia a Portugal furar, manter bola acima da sua defesa e que Fernando Santos mexeu bem para desbloquear esse problema e vencer o jogo? Pois bem, pareceu que o seleccionador achou que se resultou uma vez então podia resultar novamente, como se Alemanha e Hungria tivessem o mesmo tipo de jogo. A única semelhança entre germânicos e magiares foi mesmo o facto de jogar com três centrais, porque de resto nada mais havia em comum.

Mas isto foi quando se tentou solucionar o descalabro em que a Selecção se encontrou ao início da segunda parte do jogo. Antes disso, o processo defensivo que era a jóia da coroa do modelo implementado por Fernando Santos oxidou de tal maneira que os diamantes transformaram-se em plástico rasca, e toda a estrutura abanou como um castelo de cartas face a uma Alemanha de Low que, mais uma vez, estudou a selecção portuguesa, soube descobrir as suas lacunas e explorá-las até ao tutano.

Logo aos 5 minutos ficou evidente qual a estratégia da Alemanha para este jogo: como Portugal coloca muita gente na zona central tornando muito difícil a penetração, então era necessário desequilibrar as alas portuguesas. E isso foi feito de forma muito simples: a Alemanha saía com a bola pelos três centrais, chamando Bernardo (quase sempre) e Jota (às vezes) à pressão alta, conseguindo normalmente ganhar a superioridade numérica porque Ronaldo não vai desgastar-se nessa pressão e Bruno Fernandes estava a tentar controlar Kroos, enquanto Gundogan era tapado pelo William (ou Danilo). Neste momento já temos 5 jogadores portugueses agarrados, sendo que as deslocações de Havertz e Muller garantiam sempre a entrada da bola no eixo da frente da Alemanha. Isto colocava a defesa portuguesa mais o Danilo (ou o William) um para um com os alemães. Com as marcações homem a homem dos dois médios da Alemanha em vez de uma estratégia mais zonal, começava a destruição da barreira Portuguesa. 

O processo fez-se maioritariamente pelo lado direito, mas o mesmo ocorreu do lado esquerdo. No entanto, vou dar o exemplo que mais vezes aconteceu e que "queimou" Nelson Semedo aos olhos de quase toda a gente, incluindo eu. A partir do momento em que a bola entra em Muller, este puxa Raphael para o meio. Jota recua para auxiliar a defesa com Kimmich. Muller abre novamente na linha, Kroos e Gundogan aproximam-se para o lado direito do ataque, obrigando a selecção portuguesa a bascular toda para o seu lado esquerdo. Neste momento, Nelson Semedo já está a tremer pois não sabe o que há-de fazer. Bernardo foi à pressão aos centrais e ao GR Neuer e ainda está a regressar, Goosens está encostadinho na linha, mas Havertz está no meio perto de Gnabry, onde os centrais estão um para um, pois Danilo foi tentar tapar o lado esquerdo. 



É aí que, invariavelmente, Kimmich vira o jogo para Gosens, com precisão milimétrica, e o médio esquerdo a partir daí fez miséria da defesa portuguesa. A culpa não é de Nelson Semedo, mas de Fernando Santos e de como pôs Portugal a defender. Claro que depois do jogo acabado todos somos treinadores, mas eu vi Manuel José dizer que, assim que o Gosens marca o golo que foi anulado aos 5 minutos, comentou com os outros que estavam a ver o jogo com ele que o Danilo devia fazer de 3º central no processo defensivo, assegurando de forma zonal a tal defesa das movimentações de Gnabry e Havertz/Muller e assim expandir a linha defensiva portuguesa por forma a que os laterais pudessem segurar Kimmish e, principalmente Gosens. Bruno Fernandes baixaria para o lado de William e faria uma 2ª linha de 4 jogadores.

Fogo... estou um entendido nisto... Nada disso, limito-me a olhar para o jogo e ouvir quem sabe. Percebi durante o jogo que o que se estava a passar não era por culpa do Nelson Semedo, nem do Bernardo. Havia alí qualquer coisa de fundo que precisava de ser mudado, porque se o Bernardo vem também ele para trás, tal como vinha já o Jota... só fica lá o Ronaldo na frente? E como se saía desse sufoco?!?! Uma das respostas que faz sentido é, de facto, a de Manuel José: quando não se tinha bola, o Danilo ia para central, garantir a superioridade numérica naquela zona do terreno.

Mas isto era tudo muito giro se Portugal tivesse capacidade de manter a bola quando a recuperasse. E isso, Portugal só o consegue fazer contra a Hungria e outras selecções do mesmo nível. Há muito tempo que Portugal entrega a bola ao adversário, fecha-se em copas e aposta no contra-ataque, maioritariamente das vezes até sem critério, valendo-se no entanto da qualidade individual para concluir em golo esses momentos. Foi assim que ganhou o Euro 2016. Só que um raio não cai duas vezes no mesmo sítio, e muito menos três.

Na qualificação para o Mundial 2018, onde se inserem os jogos feitos na Taça das Confederações, e na fase de grupos da Liga das Nações, houve laivos de uma mudança de paradigma na Selecção, com William a fazer parceria com Ruben Neves, Pizzi (e depois Bruno Fernandes) e Bernardo Silva, numa frente de ataque que tinha André Silva, Gonçalo Guedes ou João Felix com Ronaldo. E aí, era conciliada a consistência defensiva com capacidade de posse de bola e critério quando era necessário construir. No entanto, com a chegada das fases finais, a ideia era abandonada e lá voltávamos ao mesmo.

O pior de tudo é que Fernando Santos anda apostado cada vez mais em substituir o talento com bola por características físicas. Quando Portugal precisa de posse de bola, o seleccionador retira quem melhor coordenou o ataque, Bernardo Silva, para meter o poço de força com passe curto que é Renato Sanches. A segunda opção é a de Rafa, velocidade pura. Jogadores como Ruben Neves, Moutinho e João Félix estão em muito maus lençóis.

O problema não foi perder com a Alemanha, mas a forma como se perdeu, e como se tem perdido outros jogos, como em casa com a França para a fase de grupos da Liga das Nações 2021. As selecções de Fernando Santos ganharam mas nunca entusiasmam nem dão confiança. Essa falta de confiança vê-se nos comentários e na forma como os diálogos se passam na TV: toda a gente faz contas ao terceiro lugar com 3 pontos, quando uma vitória frente à França nos coloca no mínimo em segundo lugar no grupo. E esse é que deveria ser, de facto, o foco do comentário.

15/06/2021

EURO 2020 - GRUPO F - HUNGRIA 0-3 PORTUGAL - OH DIOGO JOTA, PORQUE TIVÉMOS DE SOFRER TANTO POR TUA CAUSA?!?!

 


Num torneio curto, é importante não perder o primeiro jogo. Quando se joga com a Hungria e as próximas jornadas nos colocam frente a Alemanha e França, este jogo tem de ser para ganhar, dê por onde der. Ou então, temos meio caminho andado de regresso para casa no fim da fase de grupos.

É verdade que a Hungria é uma das 10 selecções com direito a jogos em casa, e que tem alguns bons valores individuais, mas caramba, convinhamos: o apuramento para o Mundial 2018 provou que tínhamos de ter ganho aquele jogo no Euro 2016. Por isso era imperativo sair com os 3 pontos, nem que fosse por meio a zero!

A Hungria mostrou desde o primeiro minuto ao que vinha: fazer a vida negra a Portugal, defender com unhas e dentes, fechar os espaços desse por onde desse, dar um ou dois sarrafos para meter o Tuga das Fintas na ordem, e se possível marcar um chouriço que pusesse 60.000 caramelos aos pulos para nos recordar como um estádio cheio a festejar é das coisas mais lindas do desporto rei. 

Portugal também mostrou ao que vinha: assegurar a posse de bola, garantir o controlo do jogo, pressionar a Hungria a obrigar ao erro e evitar de toda a forma que o adversário se empolgasse e criasse problemas. Ah, e já agora, marcar uma batata que resolvesse a questão.

Para quem tinha obrigatoriamente de ganhar se queria defender o título convenientemente, Portugal entrou bem. Diogo Jota foi a figura chave da primeira parte, e não necessariamente pela positiva. Começou muito bem, com um remate perigosíssimo que obrigou o guarda-redes húngaro a sacudir para o primeiro canto de Portugal na partida. Teve também mais uma oportunidade para marcar, com mais uma defesa de Gulacsi. O nº 21 de Portugal esteve muito em jogo, mas por norma decidia mal. Em ambas as situações que falei, tinha colegas mais bem colocados para criar ainda mais perigo. O problema maior foi a quantidade de passes falhados e a sua estranha falta de mobilidade. Estes dois pontos foram evidentes na primeira parte e agravaram-se na segunda, sendo um dos contribuíntes principais para o perpectuar do 0-0 no placar.

Portugal podia ter ido para o intervalo a vencer. Podia, mas não foi, porque não foi capaz de marcar. Cristiano Ronaldo inspirou-se em Brian Ruiz e falhou um golo cantado, mas aquilo que mais me afligia era a falta de velocidade nos processos ofensivos durante a primeira parte. Tudo muito lento... Tudo muito mastigado... Tudo a dar sono.

A coisa agravou-se para a segunda parte. O jogo estava mais mastigado, e aquilo que toda a gente via era uma "bola" de jogadores húngaros rodeada por jogadores portugueses. Não havia ninguém que entrasse naquele meio. Bruno Fernandes tentou algumas vezes, mas nem Bernardo nem Jota davam a linha de passe e a velocidade para o desequilíbrio. Às vezes aparecia o CR7, mas depois... quem estava na área? Ninguém...

Bernardo Silva não dava a desenvoltura de jogo que era precisa. Diogo Jota ficava na ala quando era preciso aparecer no meio, e vinha para o meio quando a equipa precisava de alguém na ala esquerda. E ainda falhava passes como ninguém mais em campo, juntando nesta matemática os bons rapazes da Hungria. William e Danilo seguravam o meio-campo português, poucas vezes perderam duelos, mas quando era preciso atacar, a sua qualidade de passe curto era tão eficaz quanto... curta para o que se exigia para furar a muralha húngara. Com isto, o tempo passa e instala-se o nervosísmo e a impaciência. E aumenta a crença da Hungria.

Fernando Santos mexeu muito bem. Para mim, só pecou por ter sido tarde. O jogo pedia uma safanão, e o Rafa veio dar esse safanão na ala direita, por troca do desinspirado Bernardo Silva. Portugal ganhou linha e alguém que ia para cima dos defesas, tirando a defesa da Hungria do conforto em que estava com os passes laterais da equipa de Portugal até então. A entrada de André Silva (por Diogo Jota, que esteve demasiado tempo em campo) e de Renato Sanches (por William, que esteve muito bem mas que não dava aquilo que precisávamos em termos ofensivos) desbloqueou completamente o jogo.

Cristiano Ronaldo passou a ter companhia, e mesmo quando recuava para fugir à marcação passou a haver gente na área no seu lugar. Renato deu a capacidade à equipa de "furar" pelo meio a defensiva da Hungria, para lá de Rafa já o fazer pela direita. A equipa libertou-se, ganhou mobilidade e velocidade, e com isso a capacidade de desequilíbrio.
 
O primeiro golo é exemplo claro disso: Rafa combina com Nelson Semedo na direita, faz o cruzamento, e quem aparece a marcar?!?! Raphael Guerreiro! É esta mobilidade que não existia antes. Se é para ter avançados móveis, que haja gente a mexer-se, senão não faz sentido!

Rafa foi o herói escondido deste jogo: faz duas assistências e sofre o penalti decisivo para o 2-0. No entanto, o Homem do Jogo é o "bicho capitão" Cristiano Ronaldo, que marca dois golos, tornando-se no único jogador a disputar cinco Euros... e a marcar um golo pelo menos em todos eles. Além disso, é o maior marcador dos Europeus, ultrapassando definitivamente o Michel Platini.

Nota para o terceiro golo de Portugal. Se Patrick Schick marcou um dos candidatos a melhor golo pela sua execução individual, este golo de Portugal é um dos candidatos pelo grande trabalho feito pela equipa em passes sucessivos até ao momento em que CR7 troca os olhos ao guarda-redes.

Portugal ganhou, ganhou bem e cumpriu com o que era necessário. Está, por isso, no bom caminho para as eliminatórias.

EURO 2020 - GRUPO DE PORTUGAL FECHA PRIMEIRA JORNADA! E COMO FOI ATÉ AGORA?



Aí está ele!!! O torneio de selecções mais competitivo, a par do Mundial! Hoje, todo o português vai estar colado à TV, porque a Selecção entra em campo para defender o seu título de Campeão da Europa, conquistado em 2016.

Ao contrário de outras vezes, não fiz report dos jogos até agora, porque senão não faria outra coisa senão ver jogos e escrever, pois tenho visto os jogos todos! Eu adoro o Euro e o Mundial, e não perco um Escócia - Rep. Checa, tal como um Jamaica - Nova Zelândia se fosse o caso! Porque apesar da qualidade competitiva da Champions League, continuo a dizê-lo: é nos Euro e nos Mundiais onde as lendas nascem, pois são os últimos bastiões do futebol que faz sonhar, onde a emoção ainda está acima do dinheiro. Sim, porque por muito rico que seja um país, não consegue comprar uma Selecção. O penalti do Panenka, a reviravolta do Platini, o voley do Van Basten, o sonho real da Dinamarca, o chapéu do Poborsky, a defesa sem luvas do Ricardo, o bis do Balotelli à Alemanha, o golo do Éder. Momentos históricos só do Euro que para sempre ficarão na memória de quem assistiu, ao vivo ou no Youtube. E o Euro 2020 ainda só tem quatro dias mas já há tanto para contar. 

Ao segundo dia, a tragédia esteve iminente, mas a consternação transformou-se em esperança. Christian Eriksen, craque nº 10 da Dinamarca, sofre paragem cardíaca em campo... mas recuperou! Está vivo, está estável, consciente e aparentemente bem. Se volta aos campos, logo se verá. Mas já todos deram o título de campeões aos médicos e aos dinamarqueses, mesmo estes tendo perdido surpreendentemente um jogo contra a estreante e limitada Finlândia num jogo que se calhar não deveria ter continuado naquele dia. Há também a surpresa da vitória eslovaca sobre a Polónia e o golaço de bandeira do checo Patrick Schik!

Segue o resumo do que se viu na primeira jornada dos outros grupos. Amanhã, a avaliação mais em pormenor do Grupo F, depois dos jogos de hoje.

Grupo A - Itália muito interessante, num grupo que se prevê mais competitivo do que se imaginava, para pior, pois Suíça e Turquia estão abaixo do que era suposto. 

Grupo B - Bélgica a dominar. Apesar da derrota devido aos eventos traumáticos do jogo com a Finlândia, a Dinamarca ainda não está fora, pois a Rússia não parece ter arcaboiço para isto.

Grupo C - Os Países Baixos desligaram cedo demais e assustaram-se com a Ucrânia, mas estas duas selecções deverão seguir nas duas primeiras posições. A Áustria tentará pontos e golos suficientes para ser um dos melhores terceiros e a Macedónia do Norte vai dar-nos Goran Pandev durante mais dois jogos.

Grupo D - A Inglaterra dominou a Croácia, a Rep. Checa desfez os escoceses. Os países de leste vão decidir entre si quem vai ser segundo, enquanto os escoceses vão continuar a fazer a festa por estar a  participar no Euro... e já não é mau.

Grupo E - A Espanha não convence, a Polónia complicou imenso o apuramento, e a Suécia e a Eslováquia vêem-se bem posicionados para apuramento com o alinhamento dos próximos dois jogos.

Hoje, é dia de jogar Portugal. Vamos todos. Vamos com tudo!

11/05/2021

RECEITA VENCEDORA EM QUE NINGUÉM ACREDITAVA!


Há pouco mais de um ano, uma transação de 16.000.000€ transformaram no imediato um treinador com nível UEFA PRO III e 13 jogos disputados na Liga NOS no técnico mais caro de sempre da história do futebol. Muitos riram com a pretensa parvoíce, alguns choraram com a iminência de um desastre desportivo e financeiro. Um ano depois, Ruben Amorim leva o Sporting a Campeão Nacional, depois de vencer a Taça da Liga 2021. Mais que isso, até ao momento o Sporting de Ruben Amorim perdeu apenas dois jogos esta época: uma copiosa derrota em casa por 1-4 no play-off de acesso à Liga Europa com o LASK Linz, e derrota na Madeira por 2-0 com o Marítimo para a Taça de Portugal. Ou seja, o Sporting está neste momento a dois jogos de ser campeão sem derrotas, algo inédito na história do clube.

É verdade que Ruben Amorim havia feito um trabalho notável no Casa Pia e que estava invicto no Sporting de Braga, mas apesar disso tudo quase toda a gente considerava o valor pago pela cláusula de rescisão do ex-jogador uma estupidez que iria sair caro a Frederico Varandas. Pois bem, eu fui um dos que me ri a bom rir e hoje como o meu chapéu, qual Patacôncio...

O segredo do título não está só no treinador, claro. Eu sou da opinião que o cenário de pandemia em que se disputou toda a Liga NOS 2020/21 foi mais benéfica para o Sporting. Não porque o SARS-CoV2 tenha atingido mais o Benfica de Jorge Jesus que os outros (uma das muitas desculpas estapafúrdias), mas porque a ausência de público nas bancadas tornou todos os jogos mais neutros para os clubes pequenos em casa do FC Porto e do Benfica, minimizando muito a desvantagem de quem anteriormente sofria a pressão asfixiantes das casas cheias da Luz e do Dragão. E em Alvalade?! Bom, em Alvalade vivia-se um clima de guerra e divisão de associados, constante contestação à direcção do clube e uma impaciência generalizada dos adeptos por resultados que teimavam em não aparecer! Assim, os jogos sem público permitiram a uma equipa toda renovada e muito jovem assentar o seu jogo sem a pressão dos assobios e dos insultos quando a coisa estava a correr menos bem. Um pernicioso mal que veio por bem para os lados do leão.

Não é segredo para ninguém que os últimos anos colocaram o Sporting numa situação muito grave, mas temos nesse ponto que dar o mérito à direcção do Sporting, que tirando a contratação do treinador, que era à partida uma "loucura" sem retorno financeiro e desportivo, não fez uma fuga para a frente. Junto com Ruben Amorim preparou uma equipa "de tostões" em que poucos acreditariam que pudesse quebrar o enguiço de 19 anos a ver os adversários a festejar títulos de campeão consecutivos. Se calhar, nem ele acreditaria estar hoje nesta situação. Acho que só Ruben Amorim acreditava, e mesmo ele...


Senão, vejamos:

    - António Adan é um guarda-redes de 30 anos que passou grande parte da sua carreira sénior como suplente. A excepção foram as épocas em que jogou no Bétis de Sevilha, mas não jogava há dois anos, pois era suplente do Oblak no Atl. Madrid. Hoje, é o guarda-redes menos batido da Liga NOS, com ENORMES exibições de leão ao peito que valeram muitos pontos.

    - Pedro Porro é um lateral direito emprestado pelo Manchester City. Ok, é do Manchester City, clube de top europeu. Mas o Benfica também tinha o Todibo do Barcelona... Logo, proveniência não é sinónimo de qualidade, e eu nunca tinha ouvido falar deste mano, até ele começar a jogar aqui!

    - Fedal. Quem?

    - Sebastian Coates... Este então é algo incrível... Há um ano pensava-se que ele estava despachado, que nunca mais jogaria sequer na Europa, depois de fazer 3 penaltis contra o Rio Ave, entre outras asneiras sucessivas. Hoje resolve jogos, com remates de primeira de fora da área e tudo!! É de cair de queixo quando percebemos a confiança que emana deste jogador hoje!!

    - João Palhinha era médio vulgar, sem grande futuro no top do futebol português, que hoje já é internacional português e foi o pilar da organização defensiva do Sporting.

    - Nuno Santos era jogador da formação do Benfica, com um talento reconhecido mas já com duas operações aos joelhos com 26 anos. Não se auspiciava nada de magnífico, até Ruben Amorim ir buscá-lo ao Rio Ave. 

    - Pote. Quem? Sim, esse, o médio atacante que veio do Famalicão e que está perto de ser o melhor marcador do Campeonato e talvez até o prémio de Melhor Jogador da Liga!

    - João Mário, o nº 10 da Selecção no Euro 2016 que esteve quatro anos a aquecer bancos no Inter Milão e no Lokomotiv de Moscovo, que nem chamado à selecção já era e que comandou o meio-campo do Sporting como se fosse o treinador dentro de campo.

Nas restantes posições, Ruben Amorim usou o que de melhor tinha nas camadas jovens do clube, dando o tempo de jogo e as oportunidades que Gonçalo Inácio, Tiago Tomás, Nuno Mendes, Matheus Pereira, Jovane Cabral, e outros pediam e precisavam. Criou assim uma receita vencedora que ninguém acreditava que pudesse resultar. Construíu uma equipa eficiente e eficaz, que diga-se de sua justiça está a fazer valer cada uma das palavras do lema do clube: jogam sempre no máximo Esforço, têm Devoção às ideias do treinador, quem esteja em campo ou no banco dá toda a sua Dedicação à equipa. E a Glória está aí, 19 anos depois.

É um título inteiramente justo e que deve ser bem desfrutado pelos adeptos sportinguistas. Verdadeiros adeptos do clube, e não aqueles adeptos da vitória e do título. 

Para eles todos, os meus parabéns!

09/05/2019

A GUERRA DOS TRONOS: TANTA COISA COM O INVERNO E NO FIM ERA APENAS UMA BRIOSCA?!

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Meus amigos, sou muito franco, e assumo aqui perante todos vocês, esses milhares, quiçá milhões, de pessoas que ignoram este blog e a quase dezena que o lê quando pode: se há coisa que sigo religiosamente há 8 anos é "Game of Thrones" (GoT). Pronto, já disse! Eu sei que não é fácil para toda a gente admitir uma coisa destas, mas eu admito. Pronto!

Já havia quem falasse da série, sendo que foi transmitida nos EUA uns meses antes de estrear em Portugal, e já havia algum frissom entre o pessoal que tinha visto a primeira temporada na TV do Inácio. Quando estreou no canal SyFy, e tratando-se de uma série em estilo medieval, lá me sentei em frente à TV para ver a mesma.

Ao longo destes anos, poderão acusar GoT de ser muita coisa, mas custa-me sinceramente ver pessoas a criticar a série por ser, segundo elas, "uma coisa medíocre e sem jeito". Claro está que espremendo essas pessoas mais um bocadinho até elas desenvolverem a sua opinião, percebemos que:
  1. Viram o primeiro episódio da primeira temporada e adormeceram a meio (o que é possível, mesmo com o Ned Stark a decapitar um ladrão com a descontração de quem coze um ovo);
  2. Viram um dos 57 episódios entre a temporada 2 e 7 e acharam aquilo muito bélico / chato / político / fantasioso / estúpido (riscar as opções que não interessam);
  3. Não viram nem um minuto mas ouviram dizer que não presta ou gostam de falar mal;
  4. Viram o genérico e não gostaram porque parece um anúncio de brinquedos (isto é verídico, li este comentário algures numa caixa de comentários).
Fogo!!! Isto é épico e quando se vê pela primeira vez, impõe respeito!
A maioria destas pessoas alega que é mais um show de televisão banal, batido e feito para as massas e as audiências, mas não sabe que a base de GoT, até à 5ª temporada, está em cinco livros (10 em Portugal, país onde os originais foram todos partidos em 2), da colecção "Crónicas de Gelo e Fogo" escritos por George R.R. Martin, com os dois primeiros volumes lançados ainda na década de 90 do século passado ("Game of Thrones" é o título do primeiro livro), e portanto não se trata de uma telenovela escrita às três pancadas por um qualquer estagiário de argumentista a quem foi pedido que desenrascasse uma coisa para ocupar um tempo morto de televisão.

O QUE ME FEZ GOSTAR DA "GUERRA DOS TRONOS" 

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Desta linda foto de família, sobram 3 pessoas e meia... 

Na "Guerra dos Tronos" não há os bons e os maus. Há pessoas com alguma simpatia e pessoas com trato difícil na sua generalidade. Pelo menos no princípio era assim, mas já lá vamos. Nos lívros isso é mais evidente, pois cada capítulo é contado sob a perspectiva de um determinado personagem, sendo identificado cada um ao longo de todos os livros com o nome de quem é o foco e não pelo normal "capítulo 1", "capitulo 2", o que nos permite ter duas ou mais perspectivas de um evento. Percebemos assim que um acto ediondo para uns afinal salvou centenas de vidas, ou o porquê de uma decisão política ser recebida de forma tão díspare por duas pessoas aparentemente com os mesmos interesses. Na série, essa visão é dada pela narrativa e pelo decorrer da história, em que eventos passados são relatados pelos personagens que os viveram, chegando ao mesmo objectivo. 

Na "Guerra dos Tronos" não há contemplações nem políticamente ou socialmente correcto. É para cortar cabeças? Siga. É para despejar um pote de ouro derretido na cabeça de um gajo? Siga. É para matar alguém? Não há cá retóricas porque é que ele morre, corta-se a garganta e siga. É para procriar como se não houvesse amanhã? Que se tire a roupa e siga.

Na "Guerra dos Tronos" não se poupam preferidos do público nem super vilões. Tanta gente fixe que já morreu, tanto mauzão que se pensava que seria o boss do final e fica pelo caminho de forma macaca.

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Ela, sonsa mas fofinha. Ele, um psicopata. Quando morreram, em fases diferentes da história, a reacção do público foi sempre: "Holly shit!!! A sério?! Como é possível?!?!"

Tudo isto faz de GoT uma das séries de maior sucesso do século XXI, porque tudo isto, apesar de não ser totalmente original num filme ou numa série de televisão, é pouco vulgar ou até inédito ver tudo numa mesma série. Mas acima de tudo, a "Guerra dos Tronos" é uma escola dos meandros da política e de como se faz diplomacia, tratados, acordos e traições. Os "twists" são tantos que a dada altura não haver um "twist" é uma grande surpresa. O valor da "Guerra dos Tronos" não está nas coreografias de guerra fenomenais e cheias de figurantes, nem na imponência das personagens que jogam a guerra, mas em personagens como Thyrion Lanister, Cercey Lanister, Arya Stark, Sansa Stark, Petyr "Little Finger" Baelish, Varys, High Sparrow, Jaqen H'ghar, Ramsay Bolton, para nomear alguns.

A riqueza das personagens, oferecida de mão beijada por uma trama muito bem passada do papel para a cena e em permanente evolução num contexto de alta imprevisibilidade levou a que a espera pelo episódio seguinte fosse um período de ressaca difícil de ultrapassar.

INVERNO RIGOROSO?
UMA BRIOSCA PARA DAR USO A UM CASAQUINHO DE MALHA?

Game of Thrones' Jaime Lannister is getting a huge makeover for next season 
Jamie Lanister mal sabia no que se ia meter quando chegou a Winterfell.
A dada altura, precisou de uma mãozinha...

Isto é tudo verdade... até à temporada 8. Epááááááááááá... isto está a caminhar para um final estilo "Perdidos", pá! Eu espero estar enganado, mas dá-me ideia que vamos ter um final MNHÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ... Isto já vem de trás, não é de agora, pois a malta ainda engoliu a cena do ressuscitar o John Snow que, pronto, foi uma cena forçadita mas até se entende pelas contingências da trama e pela presença da bruxa lá no castelo. Desde aí a coisa descambou um bocadinho, mas a verdade é que principalmente estes últimos quatro episódios que foram apresentados deixaram, em termos globais, muito a desejar. O primeiro até se pode perceber como o típico "pôr as peças em jogo", normal em todas as temporadas, mas pecou por não provocar qualquer momento de frissom. Por exemplo, o primeiro episódio de todos é assim meio maçudo, mas acaba em beleza com a primeira lição de vôo do Bran Stark (que verdadeiramente inicia a guerra), além de ter umas mamitas a passear alegremente pelo ecrã de tempos a tempos! No primeiro da 8ª temporada, nem um seio mal acondicionado no soutien... nem no segundo... nem no terceiro... pensando bem, em nenhum. Vê-se um ou dois rabos e já vamos com sorte.

A temporada 7 acabou com um prenúncio de chegada dos White Walkers, mas eu estava a pensar que eles só chegariam mesmo no sexto e último episódio desta temporada. Além disso, imaginava que eles chegassem e os "humanos" já se tivessem matado e estropiado todos uns aos outros. No entanto, percebi no melhor episódio até agora (ou menos mau, o segundo) que tal não aconteceria. Ah, pá... lá se foi a minha teoria de propensão para a auto-aniquilação que o Homem tem...

 
Olena Tyrrel é uma das grandes personagens da trama política de GoT.

E foi com grandes espectativas que vi o terceiro episódio. Para quem viu o episódio 9 da sexta temporada ("A Batalha dos Bastardos") e vê este, onde supostamente se desenrola a batalha mais importante de todas as batalhas alguma vez travadas em Westeros, terá ficado totalmente desiludido. O episódio é longo e carregado de cenas em super slow motion, num dramatismo forçado ao qual não estamos habituados, além de ter coisas sem nexo nenhum ('Bora atacar uma série de gajos, que não sabemos quantos são, na noite escura e de espadas a arder? 'BORAAA!!! E morreu meio exército assim... Duh!!!). E depois, o fim daquilo tudo é previsível, porque Arya Stark desaparece decidida a fazer alguma coisa ("Not today", lembram-se?), e logo percebeu-se que era ela quem ia resolver o assunto. Ainda imaginei que tomasse o lugar do irmão Bran usando a técnica dos Sem Rosto, mas não... uns gajos meio mágicos que previam todos os movimentos dos humanos e estavam preparados para tudo deixam uma meia-leca atacar pelas costa o seu rei, que depois se deixa "comer" com um movimento de mãos que Arya aprendeu com o Marco Paulo... a sério?

Para os White Walkers e os exércitos humanos todos se juntarem em Winterfell, foram precisas quatro horas e meia: o episódio 7 da Temporada 7 e os dois primeiros episódios da Temporada 8. Mas para reunir a matula que resta e ir para Kingslanding dar um raspanete na Cersey Lanister, não demorou mais que 20 minutos, com um contratempo náutico pelo meio. Bem sei que também já não havia muita gente para trazer de Winterfell, mas isto também me pareceu um desbloqueio narrativo feito às três pancadas. "Vamos lá meter porrada nisto rapidamente, porque a malta quer é farra."

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 Só em GoT um anão pode ser a maior personagem de sempre... 
...e ainda matar o pai enquanto ele relaxa na sanita.

Desde que Little Finger foi tramado pelas irmãs Stark que não morre uma personagem "daquelas". Já são episódios a mais de intervalo para não assistirmos ao fim de alguém relevante e de forma macaca! Além disso, desde que a série deixou para trás os livros e o argumento passou a ser todo novo, apesar de supervisionado por George R.R. Martin, os tipos simpáticos são cada vez mais bons e os tipos desagradáveis estão maus como as cobras, tendo as personagens mais relevantes perdido a sua humanidade, deixado de ser pessoas com defeitos e virtudes que agradam a uns e causam asco a outros, e passado a ser aquilo que normalmente são nas séries: personagens heróicas ou vilãs.

Em resumo, as 6 primeiras temporadas são épicas, mas as duas últimas (e principalmente esta) perderam alguma da força que a série tinha, levando-a a transformar-se em "apenas" mais uma boa série. Os quatro episódios que vi até agora deixaram muito a desejar face ao que tivemos direito anteriormente, e temo, como muitos, que o final resulte num pãozinho sem sal. Desejo mesmo que o Inverno que ia chegar, e que tanto rio de tinta e de sangue fez correr, não passe de uma aragem fresca que se elimina fechando a janela da cozinha.

PS: este post tem spoilers. Se calhar, devia ter avisado mais cedo, não?

10/12/2018

O CAPUCHINHO CORRECTO

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Esta semana passámos a saber que a PETA deseja que os provérbios com uma pretensa carga de violência sobre animais sejam alterados para uma outra expressão muito mais amiga dos bichos e cujo sentido se mantenha. Em vez de matar dois coelhos de uma cajadada só, passaríamos a pregar dois pregos de uma martelada só.

Muito bem... Sou só eu... ou mais alguém acha que isto está a chegar a um ponto simplesmente ridículo?! Porque na realidade, quando se pega um touro pelos cornos, quem se aleija: o touro ou o desgraçado (ou maluco) que leva com o bicho, tenha a pessoa muitas ou nenhumas lantejoulas vestidas?! Ok, apanhar a rosa pelos espinhos pode à partida parecer que tem igual sentido, não fosse o facto de num cenário fora da tourada, num meio selvagem, em que uma pessoa se vê numa situação de ataque por parte de um bovino, caso não se tenha um árvore à qual subir, pegar o bicho pelos cornos pode ser mesmo a única solução de legítima defesa. Já apanhar as rosas pelos espinhos só pode significar duas coisas: estupidez ou masoquismo.

O politicamente correcto está a atingir níveis estapafúrdios, com qualquer coisa a causar a maior das indignações num grupo qualquer pelas razões mais insignificantes. Entendo que o piropo javardola deve ser punido, mas há imensos artigos de opinião que colocam em causa qualquer acto ou expressão que um homem use para abordar uma mulher. Por exemplo, segundo as opiniões expressas em algumas publicações, um tipo solteiro num cargo de chefia sentirá sérias dificuldades em confessar a sua paixão por uma colaboradora da sua equipa sem correr o sério risco de ser acusado de assédio sexual no local de trabalho, porque a fronteira entre a corte e o uso de uma posição de poder está tão esbatida que se torna confusa. Logo, o desgraçado está condenado a partir o coração e a dedicar o seu tempo ao Tinder.

Fez há umas semanas 12 anos que vos contei a história do Capuchinho Vermelho numa versão alternativa. Como é uma história que gosto particularmente e que tenho um prazer especial em desconstruir, terei de adaptar este conto à nova onda, cumprindo principalmente com os parâmetros de inibição da violência sobre animais, obviamente.

O CAPUCHINHO VERMELHO CORRECTO

Era uma vez uma cidadã chamada Capuchinho Vermelho. A Capuchinho Vermelho vivia com a sua mãe numa bela casa. Certo dia, a mãe disse à Capuchinho Vermelho:

- Oh Capuchinho, preciso que vás a casa da tua avó levar estes bolos, pois ela está muito doente. Só te peço isso porque já és maior de idade e tens actividade aberta nas Finanças, sendo este favor obviamente remunerado segundo as Leis do Código do Trabalho, evitando assim qualquer tipo de exploração ou trabalho infantil. E não te esqueças de não falar com desconhecidos e ires sempre pelo trilho dos Bombeiros.

E a Capuchinho Vermelho lá foi pela estrada fora. É então que aparece o Lobo Mau e lhe pergunta:

- Olá, menina! Onde vais com tanta pressa!
- Ou segues o teu caminho ou eu juro que apresento queixa de ti por assédio sexual!!
- Mas... mas... mas eu só perguntei onde ias e...
- Eu não tenho que estar disposta a ouvir um gajo que não conheço de lado nenhum a chamar-me menina de forma lasciva a cada esquina!
- Olha lá, mas tu tens noção que eu sou um lobo, não tens?! Fêmeas carecas, bípedes e com apenas um par de mamas não é muito a minha onda, ok? E seria contra as leis naturais.
- Ok... pronto, por esta passa e levarei em consideração que apenas estás curioso sobre o meu trajecto. Vou a casa da minha avó, levar estes bolos.
- Ah, muito bem. E têm gluten?
- Não, tudo sem gluten.
- Mas fizeste com leite de vaca!
- Não, leite de soja!
- Ovos?
- Zero.
- Açucar refinado?
- Frutose dos morangos usados no recheio.
- Ah... ok... E vais a pé, para não emitir CO2, muito bem... O cesto, de plástico?
- Verga.
- Sim senhor, muito bem... Então, visitar a avozinha, não é?
- É.
- Ok... 
- Pois...
- Adeus.
- Adeus.

E lá foi cada um para seu lado... mas o Lobo seguiu pelo meio da floresta e chegou mais rápido a casa da avó. Chegado lá, chamou a carrinha do Centro de Dia para a levar para um dia bem passado a jogar damas, porque comer a avó, além de ser uma carga calórica proibitiva, era inconcebivelmente violento.

Mascarou-se de avó e meteu-se na cama.

Quando a Capuchinho Vermelho chegou, bateu à porta para avisar que ia entrar.

- Avó, cheguei!!
- Olá, minha querida! Não me dês beijinhos pois podes ficar traumatizada para o resto da vida.
- Oh avozinha, estás melhor?!
- Estou, claro que sim, agora que estás aqui ao pé de mim.
- Oh avó, porque é que tens as orelhas tão grandes?
- Olha lá, nunca ouviste falar de body shaming? Queres gozar comigo só porque sou velha?!
- Não, nada disso! Bom, esquece... Trouxe-te bolinhos!
- AHHH QUE BOOOOOOMMM!!! - ruge o Lobo, libertando todo o seu lado animal, salivando e abanando a cauda num misto de satisfação e excitação, tal era o seu desejo de provar aqueles bolos véganos.
- AIIIIIII!!! SOCORRO!!!! A MINHA AVÓ FOI VÍTIMA DE ROUBO DE IDENTIDADE!!!

Um lenhador que se encontrava alí perto ouviu os gritos da Capuchinho Vermelho e correu imediatamente para a ajudar.  Não matou o Lobo com o machado porque se trata de uma espécie protegida, mas esteve a atirar-lhe uma bola para ele ir buscar até as autoridades o levarem para uma reserva protegida. 

Moral da história: se os sapatos da Capuchinho Vermelho são de cabedal, quem é o verdadeiro vilão desta história?

01/10/2018

LAMECHICE PARENTAL!


O homem é aquele ser muito estranho que quer sempre dar a entender que é uma pedra sentimental, impenetrável, inquebrável, inexpressiva e inamovível, mas que se desfaz em mil e um pedaços quando estão envolvidos os filhos.

A história que vos vou contar resume-se aos últimos minutos do jogo de ontem. 

Estávamos já nos descontos de um jogo que teimava em permanecer empatado. O relógio, no entanto, era implacável na sua cavalgada até ao anunciado fim de jogo. O jogo nem me estava a correr particularmente bem: ainda pesado, com alguma prisão de movimentos, cansaço a afectar cedo e acima de tudo lances pouco conseguidos em catadupa, entre passes falhados, cortes ineficazes e falhanços incríveis dentro da área adversária.

Num canto a nosso favor, vejo o meu pequeno Miguel, com a inocência dos seus 3 anos, agarrado à grade do campo com muita atenção ao que se passava. Numa jogada ao estílo de arma psicológica contra o adversário, gritei bem alto: "MIGUEL!!! OLHA BEM ESTE GOLO QUE O PAI VAI MARCAR!!!"

Logo as bocas começaram! "Olha este! Estás cheio de fé!!", "Não marcas nem que me escanifobetique todo" e "Queres o prémio de MVP, é?!" foram alguns dos comentários que ouvi nos momentos imediatamente a seguir. Mas eu, homem como sou, mantive-me completamente impávido face às provocações dos outros, pensando no meu íntimo "o que vale é que se não marcar ele também não percebe bem isso..."

O canto foi cobrado, mas nada daí adveio. No entanto, os adversários não conseguiram sair com a bola em contra-ataque. Recuperámos rápido e eles saíram em construção. No entanto, ao chegar perto do círculo central, interceptei um passe para o meio e arranquei em direcção à área adversária. Com um central pela frente, fiz uma ligeira desaceleração seguida de nova aceleração de corrida puxando a bola para a minha esquerda. O defesa tenta interceptar "à queima", mas falha rotundamente, permitindo-me passar por ele como uma flecha e entrar na área isolado, descaído sobre a esquerda. Controlando a bola com o pé direito, tinha agora o guarda-redes pela frente, um defesa a aproximar-se pela minha direita e um companheiro sobre o lado direito do campo. Um passe bem tenso para o meu colega era golo certo. Mas eu tinha prometido ao Miguel, e para todos os efeitos só havia o guarda-redes entre mim e a baliza, se me despachasse a resolver o assunto antes de o defesa me cortar a bola.

Ameaço com o corpo um remate de pé direito. O guarda-redes coloca-se em posição de atacar a bola mas não cai. É nessa altura que percebo o que vai fazer. Dou um passo com o pé esquerdo e quando estou a tirar o pé direito do chão, ele movimenta o seu corpo para a sua esquerda. Chuto com o pé direito para o poste mais perto de mim, enquanto ele cai para o lado contrário, com a cara de desespero de quem procurava interceptar um passe que nunca existiu. É GOLO!!!

Grito "golo" e corro imediatamente em direcção à rede! Depois, riu-me à gargalhada e grito mais umas vezes "É GOLO, MIGUEL!!! É GOLO, MIGUEL!!! HAHAHAHAHAHA!!!" enquanto tapo a cara com a camisola, num festejo à Ravanelli! Pela malha da camisola, vejo o Miguel aos saltos, sempre com as suas mãozinhas agarradas à rede! Quando chego perto dele, ajoelho-me a fingir que ia a deslizar pela relva (mas sem deslizar, que a relva sintética queima que se farta), tiro a camisola da cabeça e agarro a rede juntamente com os seus deditos, enquanto ele continua ao pulos a gritar "golo"! "Eu não disse?! Eu disse que ia marcar, não disse?!"

A bola nem foi ao meio-campo. O jogo terminou logo ali e o Miguel deu a volta e entrou no campo para me abraçar. Nesse abraço, tinha de vir a pergunta mais relevante de toda esta novela:

"Pai, po'que é que aquele sinhô'e caiu?!"

21/06/2018

GRUPO D - ARGENTINA 0-3 CROÁCIA - O VERDADEIRO 10 É CROATA E CHAMA-SE MODRIC!



Isto é futebol! Uma lição para todos os miúdos que agora iniciam a sua formação e aprendem a dar dois pontapés seguidos na bola. Como lição que é, vejo perfeitamente escrito no quadro de um qualquer balneário, no início de época:

LIÇÃO Nº1: O futebol é um jogo de equipa.
O exemplo do Argentina - Croácia

A Argentina implodiu devido a Sampaoli não conseguir fazer uma equipa a partir do grupo de jogadores talentosos que tem ao seu dispor. Leo Messi deve estar de férias num safari em África e no seu lugar está o seu gémeo maléfico, Joca Messi. O colapso argentino não está só no apagamento da sua estrela maior, mas principalmente pela salsada que está dentro de campo! Sálvio a lateral? Masquerano a comandar o jogo? Messi a 8? Ou a par com Higuain, em vez de o apoiar?

Verdade seja dita que está alí muito talento. Além dos já falados, há ainda Dybala, Di Maria, Aguero, Acuña, Otamendi, Rojo e Biglia. Mas nem das individualidades a Argentina consegue tirar partido e salvar-se, porque estas afundam-se na mediania das suas exibições, o que estrafega qualquer coelho que pudesse querer sair da cartola para se salvar de um guisado em lume brando que se está a cozinhar para os Pampas, em forma de eliminação.

Do outro lado, o oposto. Uma equipa montada com bons jogadores, alguns desconhecidos do grande público e a maioria a jogar em clubes de segunda linha europeia (só Modric e Rakitic estão em clubes para ganhar a Champions) mas que estão a jogar nas suas posições e trabalham em prol de um objectivo comum! Esta Croácia não é surpresa para ninguém, pois é a mesma Croácia que vi na fase de grupos do Euro-2016 e que arredou a Espanha para o 2º lugar. Pecou quando teve medo de perder com Portugal... e perdeu mesmo.

Modric marca um goooooooooooolaço!

Depois, ainda por cima têm Luka Modric, o 10 que não foi de férias! Exibição impressionante do capitão pequenote, coroada com um golão que arrumou com a Argentina a um canto! Brilhante a cobrir os espaços do meio-campo, brilhante na condução da bola, brilhante nas decisões de passar ou rematar, brilhante na aceleração ou abrandamento do ritmo de jogo! Tanto brilho só podia resultar no encandeamento dos argentinos, caramba!!!

Agora, resta à Argentina rezar ao Papa Francisco para que a Islândia não ganhe à Nigéria amanhã, senão tem de começar a pensar fazer as malas, pois nem uma vitória choruda no último jogo lhes garante o apuramento. 

Momento "Gabriel Alves"
"Modric faz um golaço!!!"
"..."
"Grande golo de Modric!!!"
"Podes continuar a falar, que eu quero apreciar todas as repetições deste golo!"

MVP

LUKA MODRIC

Cristiano Ronaldo foi brutal. Luka Modric foi divinal. São as duas melhores exibições individuais do Mundial 2018 até ao momento. Agora, vou ver o resumo do jogo mais uma vez, enquanto vocês põe comentários aqui e "Gosto" no meu Facebook.