09/05/2019

A GUERRA DOS TRONOS: TANTA COISA COM O INVERNO E NO FIM ERA APENAS UMA BRIOSCA?!

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Meus amigos, sou muito franco, e assumo aqui perante todos vocês, esses milhares, quiçá milhões, de pessoas que ignoram este blog e a quase dezena que o lê quando pode: se há coisa que sigo religiosamente há 8 anos é "Game of Thrones" (GoT). Pronto, já disse! Eu sei que não é fácil para toda a gente admitir uma coisa destas, mas eu admito. Pronto!

Já havia quem falasse da série, sendo que foi transmitida nos EUA uns meses antes de estrear em Portugal, e já havia algum frissom entre o pessoal que tinha visto a primeira temporada na TV do Inácio. Quando estreou no canal SyFy, e tratando-se de uma série em estilo medieval, lá me sentei em frente à TV para ver a mesma.

Ao longo destes anos, poderão acusar GoT de ser muita coisa, mas custa-me sinceramente ver pessoas a criticar a série por ser, segundo elas, "uma coisa medíocre e sem jeito". Claro está que espremendo essas pessoas mais um bocadinho até elas desenvolverem a sua opinião, percebemos que:
  1. Viram o primeiro episódio da primeira temporada e adormeceram a meio (o que é possível, mesmo com o Ned Stark a decapitar um ladrão com a descontração de quem coze um ovo);
  2. Viram um dos 57 episódios entre a temporada 2 e 7 e acharam aquilo muito bélico / chato / político / fantasioso / estúpido (riscar as opções que não interessam);
  3. Não viram nem um minuto mas ouviram dizer que não presta ou gostam de falar mal;
  4. Viram o genérico e não gostaram porque parece um anúncio de brinquedos (isto é verídico, li este comentário algures numa caixa de comentários).
Fogo!!! Isto é épico e quando se vê pela primeira vez, impõe respeito!
A maioria destas pessoas alega que é mais um show de televisão banal, batido e feito para as massas e as audiências, mas não sabe que a base de GoT, até à 5ª temporada, está em cinco livros (10 em Portugal, país onde os originais foram todos partidos em 2), da colecção "Crónicas de Gelo e Fogo" escritos por George R.R. Martin, com os dois primeiros volumes lançados ainda na década de 90 do século passado ("Game of Thrones" é o título do primeiro livro), e portanto não se trata de uma telenovela escrita às três pancadas por um qualquer estagiário de argumentista a quem foi pedido que desenrascasse uma coisa para ocupar um tempo morto de televisão.

O QUE ME FEZ GOSTAR DA "GUERRA DOS TRONOS" 

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Desta linda foto de família, sobram 3 pessoas e meia... 

Na "Guerra dos Tronos" não há os bons e os maus. Há pessoas com alguma simpatia e pessoas com trato difícil na sua generalidade. Pelo menos no princípio era assim, mas já lá vamos. Nos lívros isso é mais evidente, pois cada capítulo é contado sob a perspectiva de um determinado personagem, sendo identificado cada um ao longo de todos os livros com o nome de quem é o foco e não pelo normal "capítulo 1", "capitulo 2", o que nos permite ter duas ou mais perspectivas de um evento. Percebemos assim que um acto ediondo para uns afinal salvou centenas de vidas, ou o porquê de uma decisão política ser recebida de forma tão díspare por duas pessoas aparentemente com os mesmos interesses. Na série, essa visão é dada pela narrativa e pelo decorrer da história, em que eventos passados são relatados pelos personagens que os viveram, chegando ao mesmo objectivo. 

Na "Guerra dos Tronos" não há contemplações nem políticamente ou socialmente correcto. É para cortar cabeças? Siga. É para despejar um pote de ouro derretido na cabeça de um gajo? Siga. É para matar alguém? Não há cá retóricas porque é que ele morre, corta-se a garganta e siga. É para procriar como se não houvesse amanhã? Que se tire a roupa e siga.

Na "Guerra dos Tronos" não se poupam preferidos do público nem super vilões. Tanta gente fixe que já morreu, tanto mauzão que se pensava que seria o boss do final e fica pelo caminho de forma macaca.

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Ela, sonsa mas fofinha. Ele, um psicopata. Quando morreram, em fases diferentes da história, a reacção do público foi sempre: "Holly shit!!! A sério?! Como é possível?!?!"

Tudo isto faz de GoT uma das séries de maior sucesso do século XXI, porque tudo isto, apesar de não ser totalmente original num filme ou numa série de televisão, é pouco vulgar ou até inédito ver tudo numa mesma série. Mas acima de tudo, a "Guerra dos Tronos" é uma escola dos meandros da política e de como se faz diplomacia, tratados, acordos e traições. Os "twists" são tantos que a dada altura não haver um "twist" é uma grande surpresa. O valor da "Guerra dos Tronos" não está nas coreografias de guerra fenomenais e cheias de figurantes, nem na imponência das personagens que jogam a guerra, mas em personagens como Thyrion Lanister, Cercey Lanister, Arya Stark, Sansa Stark, Petyr "Little Finger" Baelish, Varys, High Sparrow, Jaqen H'ghar, Ramsay Bolton, para nomear alguns.

A riqueza das personagens, oferecida de mão beijada por uma trama muito bem passada do papel para a cena e em permanente evolução num contexto de alta imprevisibilidade levou a que a espera pelo episódio seguinte fosse um período de ressaca difícil de ultrapassar.

INVERNO RIGOROSO?
UMA BRIOSCA PARA DAR USO A UM CASAQUINHO DE MALHA?

Game of Thrones' Jaime Lannister is getting a huge makeover for next season 
Jamie Lanister mal sabia no que se ia meter quando chegou a Winterfell.
A dada altura, precisou de uma mãozinha...

Isto é tudo verdade... até à temporada 8. Epááááááááááá... isto está a caminhar para um final estilo "Perdidos", pá! Eu espero estar enganado, mas dá-me ideia que vamos ter um final MNHÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ... Isto já vem de trás, não é de agora, pois a malta ainda engoliu a cena do ressuscitar o John Snow que, pronto, foi uma cena forçadita mas até se entende pelas contingências da trama e pela presença da bruxa lá no castelo. Desde aí a coisa descambou um bocadinho, mas a verdade é que principalmente estes últimos quatro episódios que foram apresentados deixaram, em termos globais, muito a desejar. O primeiro até se pode perceber como o típico "pôr as peças em jogo", normal em todas as temporadas, mas pecou por não provocar qualquer momento de frissom. Por exemplo, o primeiro episódio de todos é assim meio maçudo, mas acaba em beleza com a primeira lição de vôo do Bran Stark (que verdadeiramente inicia a guerra), além de ter umas mamitas a passear alegremente pelo ecrã de tempos a tempos! No primeiro da 8ª temporada, nem um seio mal acondicionado no soutien... nem no segundo... nem no terceiro... pensando bem, em nenhum. Vê-se um ou dois rabos e já vamos com sorte.

A temporada 7 acabou com um prenúncio de chegada dos White Walkers, mas eu estava a pensar que eles só chegariam mesmo no sexto e último episódio desta temporada. Além disso, imaginava que eles chegassem e os "humanos" já se tivessem matado e estropiado todos uns aos outros. No entanto, percebi no melhor episódio até agora (ou menos mau, o segundo) que tal não aconteceria. Ah, pá... lá se foi a minha teoria de propensão para a auto-aniquilação que o Homem tem...

 
Olena Tyrrel é uma das grandes personagens da trama política de GoT.

E foi com grandes espectativas que vi o terceiro episódio. Para quem viu o episódio 9 da sexta temporada ("A Batalha dos Bastardos") e vê este, onde supostamente se desenrola a batalha mais importante de todas as batalhas alguma vez travadas em Westeros, terá ficado totalmente desiludido. O episódio é longo e carregado de cenas em super slow motion, num dramatismo forçado ao qual não estamos habituados, além de ter coisas sem nexo nenhum ('Bora atacar uma série de gajos, que não sabemos quantos são, na noite escura e de espadas a arder? 'BORAAA!!! E morreu meio exército assim... Duh!!!). E depois, o fim daquilo tudo é previsível, porque Arya Stark desaparece decidida a fazer alguma coisa ("Not today", lembram-se?), e logo percebeu-se que era ela quem ia resolver o assunto. Ainda imaginei que tomasse o lugar do irmão Bran usando a técnica dos Sem Rosto, mas não... uns gajos meio mágicos que previam todos os movimentos dos humanos e estavam preparados para tudo deixam uma meia-leca atacar pelas costa o seu rei, que depois se deixa "comer" com um movimento de mãos que Arya aprendeu com o Marco Paulo... a sério?

Para os White Walkers e os exércitos humanos todos se juntarem em Winterfell, foram precisas quatro horas e meia: o episódio 7 da Temporada 7 e os dois primeiros episódios da Temporada 8. Mas para reunir a matula que resta e ir para Kingslanding dar um raspanete na Cersey Lanister, não demorou mais que 20 minutos, com um contratempo náutico pelo meio. Bem sei que também já não havia muita gente para trazer de Winterfell, mas isto também me pareceu um desbloqueio narrativo feito às três pancadas. "Vamos lá meter porrada nisto rapidamente, porque a malta quer é farra."

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 Só em GoT um anão pode ser a maior personagem de sempre... 
...e ainda matar o pai enquanto ele relaxa na sanita.

Desde que Little Finger foi tramado pelas irmãs Stark que não morre uma personagem "daquelas". Já são episódios a mais de intervalo para não assistirmos ao fim de alguém relevante e de forma macaca! Além disso, desde que a série deixou para trás os livros e o argumento passou a ser todo novo, apesar de supervisionado por George R.R. Martin, os tipos simpáticos são cada vez mais bons e os tipos desagradáveis estão maus como as cobras, tendo as personagens mais relevantes perdido a sua humanidade, deixado de ser pessoas com defeitos e virtudes que agradam a uns e causam asco a outros, e passado a ser aquilo que normalmente são nas séries: personagens heróicas ou vilãs.

Em resumo, as 6 primeiras temporadas são épicas, mas as duas últimas (e principalmente esta) perderam alguma da força que a série tinha, levando-a a transformar-se em "apenas" mais uma boa série. Os quatro episódios que vi até agora deixaram muito a desejar face ao que tivemos direito anteriormente, e temo, como muitos, que o final resulte num pãozinho sem sal. Desejo mesmo que o Inverno que ia chegar, e que tanto rio de tinta e de sangue fez correr, não passe de uma aragem fresca que se elimina fechando a janela da cozinha.

PS: este post tem spoilers. Se calhar, devia ter avisado mais cedo, não?