16/05/2017

É O FIM DOS TEMPOS!!! CHEGOU O SALVADOR!!!

Começo a perceber que sou de um tempo muito antigo. Um tempo muito bonito, de união e de orgulho, mas também de sofrimento e tristeza.

Eu sou do tempo em que o Festival RTP da Canção era sagrado. Do tempo em que um petisco primeiro e um balde de pipocas uma hora depois eram a companhia imprescindível para a noite. Do tempo em que cada um dos quatro elementos do agregado familiar pontuava de 1 a 10 as canções que iam desfilando.

Eu sou do tempo em que a canção vencedora na RTP tocava todo o santo dia na rádio. De manhã, à tarde e à noite. E ainda havia tele-discos ou repetições da performance do Festival a passar antes do Telejornal.

Eu sou do tempo em que o Festival Eurovisão da Canção era acontecimento nacional. Do tempo em que todos acreditavam que desta é que era. Do tempo em que todos ficavam cheios de calos nas mãos de tanto esfregá-las a dizer que desta é que era. Do tempo em que todas as canções estrangeiras eram sempre uma bodega, mesmo que fossem muito boas.


Eu sou do tempo da Manuela Bravo, dos discos singles de vinil e dos gira-discos portáteis para crianças. Do tempo em que eu punha o gira-discos a funcionar e da minha mãe dizer "OH STRIK3R, JÁ CHEGA DE «SOBE, SOBE, BALÃO SOBE!!»"

Eu sou do tempo dos alemães Dschinghis Khan, da "suiça" Celine Dion e do irlandês Johnny Logan. Do tempo do Carlos Paião, das Doce e da Maria Guinot.

Eu sou do tempo em que Espanha dava sempre 12 pontos a Portugal. Do tempo de Portugal dar sempre 12 pontos à Espanha. Do tempo em que os alemães e os franceses eram uns sacanas porque nunca nos davam pontos... nem um pontinho de comiseração. Do tempo em que se Espanha não desse os 12 pontos, eram uns sacanas como franceses e alemães.

Eu sou do tempo em que o Festival Eurovisão da Canção estava todo comprado. Do tempo em que tudo estava feito para ________ (pôr aqui o país correcto) ganhar, por muito má (ou realmente muito boa) que fosse a canção. Do tempo em que a nossa canção era sempre muito melhor que a dos outros, mesmo que fosse uma grande "jana", mas em que éramos demasiado pequeninos para ganhar.

Eu sou do tempo em que não ganhávamos pevide, em nada e em lado nenhum, e sempre por duas razões: ou porque éramos maus e não percebíamos tal, ou porque estava tudo feito para não ganharmos por muito bons que fôssemos.

E eis que em 2016, o Éder marca um golo! Repito, em maiúsculas, bold, itálico, sublinhado, vermelho e letra bem grande, porque ainda hoje custa a acreditar:  
O ÉDER MARCA UM GOLO! 

E a partir desse fatídico dia de 10 de Julho de 2016 tudo mudou. Crescimento económico, desemprego em queda, défice abaixo dos 3%, segundo Orçamento de Estado aprovado por uma coligação de todas as esquerdas, destino turístico de eleição, medalhas olímpicas... epá, uma fartura!

Mas ainda havia um bastião inexpugnável, e impossível de derrubar. Hoje em dia, na Eurovisão, ao voto do júri comprado junta-se o voto do público iletrado e amusicado, dominado pelo conlúio da Europa de Leste! Aí, nem o Éder nos salvava. Só um Messias, um Todo-Poderoso, um Salvador.

E o Salvador ganhou. 


Muitos acreditavam que desta é que era porque a canção era muito boa. Eu, confesso, ouvi a canção por inteiro pela primeira vez no sábado. Por isso, quando vi que a canção estava a dar um bigode nas votações fiquei de queixo caído, porque já não era a primeira vez que enviávamos uma boa canção com uma boa música e das outras vezes isso valeu ZERO! O jornal "El Español" diz mesmo que fizémos batota, porque levámos uma canção com música a sério, que jogamos baixo e sujo, porque quem vai à Eurovisão vai para a baderna, não para levar o festival a sério e levar coisas com qualidade! (ler o artigo original aqui)

Meus amigos, perante isto resta-me dizer apenas isto: se até já ganhámos na Eurovisão, é aproveitar o embalo, pegar nos nosso submarinos "Arpão" e "Tridente", mais um grupo de GNR's e de paraquedistas, e invadir os EUA, para de uma vez por todas conquistarmos o Mundo! É vitória certa, e ainda temos o prazer de dar umas bolachadas no Donald Trump!!

... ou então o Mundo acaba daqui a uns meses, pois não aguenta tanta vitória lusitana...

15/02/2017

DIZ-ME, FRANCESCO: QUAL É O TEU SEGREDO?!



Todo o jogador, melhor ou pior, mais profissional ou mais amador, chega a uma fase da sua carreira em que se depara com novidades que lhe fazem confusão: que a bola já não rola como rolava antes, que os adversários ficam mais rápidos a mudar de direcção, que os jogos passam a durar mais tempo do que era normal... e depois percebe que nada disto é estranho, é apenas a idade a atacar. E quando ataca, meus caros, não há experiência que nos valha.

Para um jogador de "elite", como é o caso do personagem que vos escreve estas linhas, há também outros factores externos que nos condicionam a profissão. Esses factores são vários, diversos, mas descrevem-se numa simples expressão de duas palavras: vida familiar.

Pois bem, os últimos meses têm sido o reflexo do acordar para uma nova realidade. A quatro meses de completar 40 anos, dei comigo de canadianas pela primeira vez na vida devido a um estiramento do ligamento lateral interno do joelho esquerdo. Foi a primeira vez que fiquei sem jogar mais de um mês por obrigação. Foram dois meses e meio de paragem, e o regresso revelou-se doloroso, obrigando a mais umas semanas de paragem. 

A seguir, verifico que a minha profissão adorada colide com os interesses da pessoa que comanda o Mundo, a quem foram atribuídos poderes tais que lhe permitem interferir com os direitos adquiridos dos habitantes terrestres em geral e dos futebolistas em particular, e que é tão egoísta quanto qualquer ser humano pode ser. Para quem não percebeu aquilo a que me refiro, o meu puto mais novo aprendeu a andar, desatou a mexer em tudo o que alcança e implantou o Inferno na Terra. A mãe, já quase em estado de demência devido às torturas de que foi alvo, pediu-me por tudo que a ajudasse a conter os seus ímpetos ditatoriais e impedisse que o seu domínio se estendesse ao restante território. "Bolas, mas isso implica que terei de faltar aos jogos..."


A realidade é que a competição efectiva esmoreceu nos últimos anos. De campeonatos com duração de Outubro a Maio, o FLX passou a participar apenas em torneios com 10 a 14 semanas, e alguns eventos esporádicos de curta duração. Os treinos passaram a ser mais uma peladinha de amigos, e às tantas essa peladinha até foi substituída no seio da equipa por peladinhas com outros grupos. A última competição em que participámos foi a 4 de Março de 2016, o tal dia em que o meu joelho decidiu provar que efectivamente não é de ferro... Com a ascenção do Tirano-Mór, as próprias peladinhas ficaram para segundo plano.

Assim, aos 40 anos, dei por mim a pensar que aqueles momentos áureos, aquelas alegrias que conquistámos e que me fizeram de alguma forma viver o sonho de criança, estão mesmo a chegar ao fim. Que no futuro um jogo nunca será como os jogos de há uns anos, e o meu jogo, a minha capacidade de explosão, a minha força para ganhar em corrida ao adversário e bater o guarda-redes adversário com um "tiraço", cada vez será menor... 

E que a bola nos meus pés irá ter um comportamento diferente ao longo dos tempos. Até que um dia, um qualquer dia, irá mesmo deixar de tocar no meu pé...

Amanhã, regresso ao futsal. Peladinha de amigos, pura diversão cuja importância está cingida ao "picanço" na sala do café durante a semana que se sucede. O que tem de especial?! Incrivelmente, é o primeiro jogo que disputo no ano de 2017. Aliás, o primeiro jogo que disputo desde Novembro de 2016 e o sexto da época 2016/2017. E pensar que cheguei a treinar e jogar segunda, quarta, sexta, sábado e domingo...



Francesco Totti. 40 anos, dois meses mais novinho que eu. No passado dia 1, foi dele o golo que deu à Roma (o seu único clube) a passagem à fase seguinte da Taça de Itália. Mais um, o terceiro golo em 16 jogos entre Liga Italiana, Taça de Itália e Competições Europeias. 

Diz-me, Francesco: qual é o teu segredo?


PS: ponto positivo disto tudo é que quanto mais se aproxima o fim da bola, mais angustiado fico. E estando mais angustiado, mais motivos tenho para escrever aqui! Lá para os 65, é certinho: Prémio Nobel da Literatura!