13/06/2014

GRUPO B - ESPANHA 1-5 HOLANDA - OLÉ NARANJA!


Eu sou suspeito: apesar de reconhecer a força e eficácia do tiki-taka do Barcelona (que é a base do futebol da selecção espanhola), não gosto de assistir e muito menos que este tipo de jogo ganhe jogos. Sou assim, esquisito, diferente dos outros. Apesar disso, considero a Espanha um dos principais candidatos ao título mundial, a par do Brasil, por jogar em casa, da Alemanha e... da Holanda. Não acho a Argentina com "arcaboiço" para ombrear com estas quatro.

Mas vamos ao que interessa, que foi o jogo desta noite. Se para alguns este resultado foi uma surpresa, para mim apenas foi nos números e em pequenos detalhes. Passarei a explicar mais adiante.

Louis Van Gaal é conhecido por ser um estudioso do jogo e por posicionar muito bem as suas equipas e não é por acaso que achou conveniente trabalhar sobre um sistema de três centrais. Se nos recordarmos da Holanda que Portugal venceu por 2-1 no Euro-2012, tinha um ataque demolidor mas a sua transição defensiva era pouco mais que paupérrima e a equipa partia-se com demasiada facilidade. Van Gaal tratou dessa questão, não só com os três centrais mas principalmente com um meio campo de "combate" que liberte na sua plenitude Robben, Snider e Van Persie para fazer aquilo que melhor sabem fazer: atacar a baliza adversária.

O jogo começou muito encaixado, com a Espanha na sua habitual posse e a Holanda mais espectante. A inclusão de Diego Costa poderia dar a acutilancia ao ataque espanhol que tem faltado ao Barcelona, mas poucas vezes o espano-brasileiro teve bola decente para alvejar a baliza holandesa. Quando teve, preferiu atirar-se para o chão e o árbitro (provavelmente por ele ter nascido no Brasil) deu-lhe a prenda. Xabi Alonso marcou e a Espanha estava na frente.

Este é o primeiro pormenor que me surpreende deste jogo. O tiki-taka é muito mais eficiente quando a equipa está em vantagem, pois retira ao adversário a força anímica para tentar dar a volta ao resultado. É verdade que o golo de Van Persie aparece naquela altura chave, mesmo sobre o intervalo, mas a forma como é obtido, num passe em profundidade num lance de três toques de bola indicia que a pressão espanhola não foi (pelo menos neste jogo, vamos a ver se o "não foi" passa a "não é") aquilo que era normal ser. Verdade seja dita, este golo de Van Persie é simplesmente fantástico.

Segunda parte e a toada estava parecida, sendo a principal diferença que a Espanha não tinha a profundidade da primeira parte. Se Diego Costa recebeu poucas bolas nos primeiros 45 minutos, na segunda parte menos recebeu ainda. E então surge o Génio de Vidro do Bayern, Arjen Robben, a dominar a bola com mestria a mais um passe de Blind e a proporcionar a cambalhota no marcador à Holanda.



A Espanha passou a perder a bola com ainda maior facilidade, com os seus jogadores a demonstrarem o nervosismo que sentiam. Nesta altura entra um dos maiores mistérios deste Mundial: porque é que Diego Lopez não foi convocado?! Há alguma desculpa de Casillas no terceiro golo da Holanda, pois Van Persie faz falta, mas o lance foi mais uma vez mal abordado e a realidade é que logo a seguir oferece ao avançado do Manchester United o quarto golo! Isto tudo depois de quase ter oferecido a Liga dos Campeões ao Atlético Madrid. As saídas de Casillas da baliza são um treme-treme para a defesa espanhola, mas ao estilo Scolari-Baía, temos agora Del Bosque-Lopez.

Uma Holanda personalizada acabou vencendo por 5-1, num golo em que Robben desfaz sozinho o pouco que restava do orgulho nos defesas espanhóis, mas podemos dizer que foram "só" 5-1. O vexame podia ter sido muito, muito maior. Os números supreendem, a vitória em si não me surpreende nada. A Espanha de tão calculista em posse, com tanto passe curto, tornou-se previsível, e Van Gaal aproveitou isso muito bem. Agora, a Espanha está numa rede muito complicada de desfiar, pois terá de lutar com o Chile pelo apuramento e se passar é praticamente certo que cairá nas malhas do Brasil, anfitrião da prova.

Comparar este tiki-taka com aquilo que o Barcelona de Cruif ou a Laranja Mecânica dos anos 70 faziam é só boa vontade. Havia acutilância, procura constante da baliza e objectividade num jogo em que defesas causavam desequilibrios e apareciam a finalizar. A ideia base do futebol do Barcelona e por inerência da Selecção Espanhola não está errada, os artistas é que já não são os mesmos. Se gostei imenso da Espanha de Aragonés no Euro-2008, com Villa e Torres na frente a deliciarem-me do ponto de vista futebolístico, a do Mundial 2010 já me deixou um sabor a churrasco de beterraba (coisa assim para o "sem sabor"). Cesc como falso-9 matou por completo o prazer que tiro de ver a Espanha, apesar de achar que tem a sua virtude. O problema é que já há selecções a perceber como ultrapassar esta Espanha de muita posse e pouca profundidade... que faz lembrar o Portugal Campeão do Mundo de Futebol sem balizas.

Sem comentários: