19/06/2014

GRUPO B - ESPANHA 0-2 CHILE - O FIM DO REINADO!


Não deixa de ser irónico que no dia em que Juan Carlos I abdica oficialmente do trono espanhol em deterimento do seu filho Filipe VI a selecção espanhola, campeã em título, esteja por decreto oficial fora do Campeonato do Mundo 2014 a partir do próximo dia 23 de Junho. Se é um escândalo mediático o afastamento dos espanhóis, quem viu os jogos aceita esta situação quase com uma normalidade mórbida face à triste realidade: esta Espanha tem os mesmos jogadores mas a qualidade do seu futebol nada tem a ver com o que foi praticado nos últimos seis anos. Mas não se tratou só de demérito espanhol, longe disso.

Quem me ouviu falar antes do Mundial começar sabe que sempre disse que o Chile era um candidato a dificultar a vida às duas favoritas Espanha e Holanda. E hoje os chilenos não só "arrumaram" a Espanha como puseram Scolari a pensar que se calhar vai ter umas noites complicadas para dormir de hoje em diante, não só porque o Brasil joga pouco como ainda por cima irá apanhar a super-motivada Holanda ou este irreverente Chile!

Os chilenos apostaram hoje no seu mais normal esquema com três centrais com pouca evergadura física que chegaram e sobraram para uma Espanha que há muito perdeu objectividade atacante. Isso permite ao Chile povoar o meio campo com Isla à direita, o centro com Marcelo Diaz, Charles Aranguiz e Arturo Vidal, Mena sobre a esquerda e na frente o dinâmico Alexi Sanchez e Eduardo Vargas, ambos bem conhecidos do campeonato espanhol. Quanto à Espanha, apenas tirou Xavi e Piqué relativamente ao jogo com a Holanda.

O tiki-taka é mortífero quando se executa em ritmo alto o "passe e corte" e isso não é uma característica desta Espanha. Além disso, a pressão que as equipas holandesa e chilena, com meio campo bem povoado, exerceram sobre os jogadores espanhóis que estão sobre as alas permitiu-lhes roubar a bola ao adversário com muito mais facilidade do que tinha sido habitual desde 2006. Depois, bastou rodar rapidamente o jogo e lançar ataques com jogadores rapidíssimos, como Robben, Van Persie, Sanchez e Vargas para destroçar uma defesa espanhola que raramente teve o apoio dos seus trincos, constantemente batidos nas recuperações defensivas. O primeiro golo do Chile é tirado a papel químico aos golos de contra-ataque obtidos pela Holanda, muito graças ao virtuosismo que o Chile tem no seu meio campo e linha avançada.
 

Depois, para "ajudar" ainda mais a Espanha, entrou em acção mais uma vez a Maldição do José (Mourinho, óbvio). Em momentos críticos, Casillas falhou. Falhou na final da Liga dos Campeões, falhou no jogo com a Holanda e hoje, num momento crítico, voltou a falhar. A forma como aborda o remate de Alexi Sanchez com uma defesa para a frente da baliza foi demonstrativa da falta de confiança que o capitão espanhol tem nesta altura e propicía a recarga vitoriosa a Aranguíz, mesmo pressionado por dois defesas espanhóis.

Del Bosque está neste momento no mesmo plano que este grupo de jogadores: depois de tantos títulos e alegrias, o seu fim na selecção espanhola está perto. De certo que a crítica irá cair sobre ele, pelas opções da convocatória que tomou, que levaram inclusivamente Bruno Prata a dizer que a dada altura era a ideal para entrar Negredo... que não estava nos 23. Mas principalmente irá cair sobre ele todas as críticas pelas opções que tomou no banco de suplentes com estes 23 e a perder por 2-0 no jogo em que nem o empate era opção. A entrada de Koke teria lógica se a saída tivesse sido a de Busquets, jogador muito menos capacitado para a circulação de bola do que Xabi Alonso, que ainda por cima aparenta ser muito mais forte emocionalmente. Depois, trocar Diego Costa por Torres e ter como última opção Santi Cazorla, pedindo no final que os centrais subissem e assumissem a posição de avançados... não sei... parece-me uma coisa demasiado "queirosiana", demasiado teórica para a simplicidade do futebol.

Chile e Holanda têm agora pela frente um desafio para ver quem evita o inferno de defrontar o Brasil. Quanto à Espanha, resta-lhe o jogo de honra contra uma muito honrada Austrália, que não irá desperdiçar a hipótese de sair de cabeça bem levantada deste Mundial em que demonstrou orgulho, espírito de equipa e coração suficiente para nos fazer pensar que o pesadelo dos Campeões do Mundo pode ainda não ter terminado.

Nota final: nos últimos quatro Campeonatos do Mundo, três campeões foram afastados na Fase de Grupos (França 2002, Itália 2010 e agora Espanha 2014). A única excepção é o Brasil em 2006. No entanto, França e Itália foram eliminados apenas após os resultados da terceira jornada. Esta é a pior prestação de sempre de um Campeão do Mundo na história dos Mundiais.

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