14/06/2014

GRUPO B - CHILE 3-1 AUSTRÁLIA - O CORAÇÃO NÃO CHEGOU!


O Mundial tem esta particularidade de permitir àqueles que se pensa que são "carne para canhão" fazer uns brilharetes e colocar em cheque o estatuto dos mais fortes. No encerramento da análise anterior não me coibi de afirmar que a Espanha iria agora discutir o apuramento com o Chile. É a verdade, mas poderia não ser em virtude do que a Austrália fez neste jogo.

Tenho para mim que o Chile é uma daquelas equipas "chatas" que apesar de não serem uma potência irão causar grandes problemas às equipas candidatas, Espanha e Holanda. A maioria coloca estas duas no topo da classificação, mas o andar da carruagem poderia estragar-lhes os planos. E neste momento tudo se prepara para a Espanha ter de sacar da calculadora.

Este jogo em particular previa-se que fosse um passeio em ritmo acelerado para os sul-americanos, uma vez que os Socceroos não têm actualmente a mesma qualidade que tinham em 2006, por exemplo, em que metade da selecção jogava na Premier League ou em campeonatos europeus. E confirmou-se que a Austrália tinha muitas dificuldades em jogar com a pressão exercida pelo meio campo chileno, que provocava constantes erros comprometedores e impediam a criação de um projecto de lance de ataque que fosse, mantendo a baliza de Ryan em constante sobressalto. 

Não foi surpresa o facto de o Chile inaugurar o marcador aos 12 minutos pelo "barcelonista" Alexi Sanchez e menos surpresa causou o 2-0 dois minutos depois num belo remate de Valdivia. A Austrália estava encostada às cordas e não parecia haver Isostar nem toalhas a abanar que a fizesse reerguer para o combate. Vidal (apesar de pouco dinâmico), Valdivia e Aranguiz dominavam as operações e a falta de capacidade de transporte da bola por parte da Austrália era evidente.

O problema disto tudo é quando entra na cabeça dos jogadores o célebre "isto 'tá ganho"! O Chile manteve o ritmo até cerca dos 20 minutos e depois progressivamente foi baixando o ritmo, procurando mais as trocas de bola sem o objectivo claro de causar mossa no adversário mas sim mais para descansar e nestas situações é vulgar perder-se o nosso próprio ritmo... e adormecer.



A Austrália joga em processos simples, de passe longo para Tim Cahill que segura e distribui geralmente para Bresciano. É quase uma forma de ganhar terreno como no raguebi, mas sem a bola sair de campo. Depois era procurar a finalização ou um passe para as alas a proporcionar o cruzamento de Franjic (na direita) ou de Davidson (na esquerda) à procura de Cahill na área. É portanto um futebol muito baseado na capacidade física dos jogadores. Apesar de pouco técnico, simples e de ser aparentemente fácil de enfrentar, a vantagem deste tipo de jogo é que com um jogador tecnicamente evoluído e com bom jogo aéreo como Tim Cahill, que apesar dos seus 34 anos tem capacidade física para lutar no meio dos centrais, só é preciso que a bola lhe chegue bem por uma única vez para se fazerem estragos. E assim aconteceu aos 35 minutos.

A Austrália teve então o seu Isostar e o Chile tremeu os joelhos com aquela cabeçada mesmo bem encaixada. A segunda parte então deu-nos um jogo muito interessante entre duas equipas com duas abordagens de futebol completamente diferentes mas ambas em busca do golo, num jogo aberto e muito divertido de se ver. E nos primeiros 20 minutos a Austrália teve várias vezes perto do golo, duas vezes em cruzamentos para cabeceamentos de Cahill e uma vez por Bresciano, naquele que foi para mim o momento do jogo, com um remate de primeira e recarga de seguida, ambos parados por Claudio Bravo que assim assegurou a vantagem do Chile.

O Chile acaba por vencer bem por 3-1, com o último golo já nas compensações, porque foi mais equipa, com melhor capacidade de circulação, mas enquanto a Austrália teve coração o Chile esteve no fio da navalha. A saída de Bresciano, completamente estoirado, marcou o fim da reacção dos Socceroos, pois Troisi não tem a capacidade técnica nem a visão de jogo do veterano de 34 anos que fez carreira em Itália e agora goza a reforma em actividade no Al-Gharafa, e por isso nos últimos 10 minutos o jogo foi todo do Chile, que acredito que irá tirar conclusões sobre os erros que cometeu e irá fazer de tudo para colocar a Espanha em muito maus lençóis para o apuramento.

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