15/06/2021

EURO 2020 - GRUPO F - HUNGRIA 0-3 PORTUGAL - OH DIOGO JOTA, PORQUE TIVÉMOS DE SOFRER TANTO POR TUA CAUSA?!?!

 


Num torneio curto, é importante não perder o primeiro jogo. Quando se joga com a Hungria e as próximas jornadas nos colocam frente a Alemanha e França, este jogo tem de ser para ganhar, dê por onde der. Ou então, temos meio caminho andado de regresso para casa no fim da fase de grupos.

É verdade que a Hungria é uma das 10 selecções com direito a jogos em casa, e que tem alguns bons valores individuais, mas caramba, convinhamos: o apuramento para o Mundial 2018 provou que tínhamos de ter ganho aquele jogo no Euro 2016. Por isso era imperativo sair com os 3 pontos, nem que fosse por meio a zero!

A Hungria mostrou desde o primeiro minuto ao que vinha: fazer a vida negra a Portugal, defender com unhas e dentes, fechar os espaços desse por onde desse, dar um ou dois sarrafos para meter o Tuga das Fintas na ordem, e se possível marcar um chouriço que pusesse 60.000 caramelos aos pulos para nos recordar como um estádio cheio a festejar é das coisas mais lindas do desporto rei. 

Portugal também mostrou ao que vinha: assegurar a posse de bola, garantir o controlo do jogo, pressionar a Hungria a obrigar ao erro e evitar de toda a forma que o adversário se empolgasse e criasse problemas. Ah, e já agora, marcar uma batata que resolvesse a questão.

Para quem tinha obrigatoriamente de ganhar se queria defender o título convenientemente, Portugal entrou bem. Diogo Jota foi a figura chave da primeira parte, e não necessariamente pela positiva. Começou muito bem, com um remate perigosíssimo que obrigou o guarda-redes húngaro a sacudir para o primeiro canto de Portugal na partida. Teve também mais uma oportunidade para marcar, com mais uma defesa de Gulacsi. O nº 21 de Portugal esteve muito em jogo, mas por norma decidia mal. Em ambas as situações que falei, tinha colegas mais bem colocados para criar ainda mais perigo. O problema maior foi a quantidade de passes falhados e a sua estranha falta de mobilidade. Estes dois pontos foram evidentes na primeira parte e agravaram-se na segunda, sendo um dos contribuíntes principais para o perpectuar do 0-0 no placar.

Portugal podia ter ido para o intervalo a vencer. Podia, mas não foi, porque não foi capaz de marcar. Cristiano Ronaldo inspirou-se em Brian Ruiz e falhou um golo cantado, mas aquilo que mais me afligia era a falta de velocidade nos processos ofensivos durante a primeira parte. Tudo muito lento... Tudo muito mastigado... Tudo a dar sono.

A coisa agravou-se para a segunda parte. O jogo estava mais mastigado, e aquilo que toda a gente via era uma "bola" de jogadores húngaros rodeada por jogadores portugueses. Não havia ninguém que entrasse naquele meio. Bruno Fernandes tentou algumas vezes, mas nem Bernardo nem Jota davam a linha de passe e a velocidade para o desequilíbrio. Às vezes aparecia o CR7, mas depois... quem estava na área? Ninguém...

Bernardo Silva não dava a desenvoltura de jogo que era precisa. Diogo Jota ficava na ala quando era preciso aparecer no meio, e vinha para o meio quando a equipa precisava de alguém na ala esquerda. E ainda falhava passes como ninguém mais em campo, juntando nesta matemática os bons rapazes da Hungria. William e Danilo seguravam o meio-campo português, poucas vezes perderam duelos, mas quando era preciso atacar, a sua qualidade de passe curto era tão eficaz quanto... curta para o que se exigia para furar a muralha húngara. Com isto, o tempo passa e instala-se o nervosísmo e a impaciência. E aumenta a crença da Hungria.

Fernando Santos mexeu muito bem. Para mim, só pecou por ter sido tarde. O jogo pedia uma safanão, e o Rafa veio dar esse safanão na ala direita, por troca do desinspirado Bernardo Silva. Portugal ganhou linha e alguém que ia para cima dos defesas, tirando a defesa da Hungria do conforto em que estava com os passes laterais da equipa de Portugal até então. A entrada de André Silva (por Diogo Jota, que esteve demasiado tempo em campo) e de Renato Sanches (por William, que esteve muito bem mas que não dava aquilo que precisávamos em termos ofensivos) desbloqueou completamente o jogo.

Cristiano Ronaldo passou a ter companhia, e mesmo quando recuava para fugir à marcação passou a haver gente na área no seu lugar. Renato deu a capacidade à equipa de "furar" pelo meio a defensiva da Hungria, para lá de Rafa já o fazer pela direita. A equipa libertou-se, ganhou mobilidade e velocidade, e com isso a capacidade de desequilíbrio.
 
O primeiro golo é exemplo claro disso: Rafa combina com Nelson Semedo na direita, faz o cruzamento, e quem aparece a marcar?!?! Raphael Guerreiro! É esta mobilidade que não existia antes. Se é para ter avançados móveis, que haja gente a mexer-se, senão não faz sentido!

Rafa foi o herói escondido deste jogo: faz duas assistências e sofre o penalti decisivo para o 2-0. No entanto, o Homem do Jogo é o "bicho capitão" Cristiano Ronaldo, que marca dois golos, tornando-se no único jogador a disputar cinco Euros... e a marcar um golo pelo menos em todos eles. Além disso, é o maior marcador dos Europeus, ultrapassando definitivamente o Michel Platini.

Nota para o terceiro golo de Portugal. Se Patrick Schick marcou um dos candidatos a melhor golo pela sua execução individual, este golo de Portugal é um dos candidatos pelo grande trabalho feito pela equipa em passes sucessivos até ao momento em que CR7 troca os olhos ao guarda-redes.

Portugal ganhou, ganhou bem e cumpriu com o que era necessário. Está, por isso, no bom caminho para as eliminatórias.

Sem comentários: