09/03/2010

COISAS DE PUTOS



A grande maioria das pessoas neste país frequentaram uma escola dos 6 aos 18 anos. Alguns mais uns anos com a faculdade, outros menos uns anos... Mas todos e todas que hoje andam na casa dos 40 podem dizer sem pudôr que no seu tempo havia pessoal que passava as "passas do Algarve" na escola, e que já no tempo dos seus pais era assim. Em todas as turmas, haviam os Porreiros, os Palhacitos, os Grandalhões, os Chicos-espertos, os Envergonhados, os Fracos e os Palermas.

Os Grandalhões e os Chicos-espertos sempre se aproveitaram dos Fracos e dos Palermas, como fornecedores de bens (dos chocolates ao dinheiro) e serviços (trabalhos, copianço e saco de porrada). E sempre tentaram aproveitar-se dos Envergonhados, acabando por dar-se mal com eles no dia em que estes perdem a vergonha e a paciência de uma só vez. Os Palhacitos são os primeiros a aproveitar os Fracos e os Palermas como fonte de inspiração para o seu dom para a comédia. Os Porreiros, apesar de não abusarem dos dois referidos grupos, riem-se das piadas dos Palhacitos e rejeitam a presença dos Fracos e dos Palermas no seu seio em ocasiões mais importantes, como nas equipas de futebol, nas reuniões no bar ao intervalo ou nas festas de aniversário. Sempre foi assim e sempre será.

Porquê? Porque sim.

O Palerma é sempre um palerma. É o(a) burro(a) da turma e diz disparates a toda a hora, ora por burrice, ora na tentativa de se sobressair e tentar dizer "eu também sou dos Porreiros" ou "eu também sou dos Palhacitos".

O Fraco é fraco porque, normalmente, está sozinho. O Fraco não tem um grupo que o proteja. Curiosamente, o Fraco não se une a outros Fracos, o que é um facto fascinante. E o mais fascinante é que um Fraco aqui pode ser num outro ambiente um Porreiro ou um Palhacito... ou pior ainda, um Grandalhão.

O Grandalhão é sempre um energúmeno potencialmente associável. É sempre perigoso, mas os piores de todos são os Grandalhões que em determinado ambiente são os Fracos, pois descarregam as suas frustrações de Fraco nos outros Fracos, com maior grau de refinamento.

Porque é que isto acontece? Porque sim. Porque o ser humano é um animal social que vive em grupo com pessoas com vista à sua própria sobrevivência. Uns impõem-se por questões naturais, outros procuram sobreviver e seguem o resto do rebanho.

É assim desde o princípio da Vida na Terra, seja com o ser humano ou outro qualquer animal social. Por isso, não percebo porque raio existe tanto espanto hoje em dia com esse fenómeno "recém-aparecido" intitulado de BULLYING.

Acordaram tarde. Sim, porque já o Átila era um Bully...

2 comentários:

Angel disse...

Faltou-te aí uma personagem. Aquele desgraçado/a que por muito que se esforce para passar despercebido/a, quando saí a porra das notas, é sempre o melhor da turma e aí vira saco de pancada....porque sim, porque ser bom aluno é sinonimo de marrão e deve levar pancada de meia noite e se tenta explicar que não estuda nada e aquilo é apenas fruto de um bom ADN, então ainda leva mais que é para a proxima encarnação aprender a ser burro que nem uma porta.
Imagina lá porque sei eu isto!!
Tens razão no que escreves, sempre houve bullying, desde o principio dos tempos. E se por um lado concordo ctg que isto não é nenhuma novidade, por outro lado, fruto da sociedade moderna, começa a haver putos que se matam por causa disso. Que me lembro no meu tempo por muita porrada e humilhação que vivessemos todo o santo dia, nunca deu a ninguem para se matar. Assim sendo...se por um lado o Bullying me transformou naquilo que sou hoje, rija que nem um cepo, por outro lado tambem me preocupa aqueles que não ficam mais fortes com isto e que pura e simplesmente resolvem acabar com a vida. É como as historias dos comandos. A tropa faz-te um homem, excepto aquele gajo que morre sempre em circunstancias estranhas e que era fraco.
O Bullying não é novo mas talvez seja hora de se olhar para isto com outros olhos, antes que haja mais vitimas. Já somos todos pais e mães e de certeza que não gostariamos que os nossos filhos passassem aquilo que nós passamos na escola. Eu pelo menos não gostaria!!

Strik3r disse...

É óbvio que é grave e é óbvio que tem de se tomar medidas. E é ainda mais óbvio que se deve falar disto, porque é algo que atormenta e atormentou muitas crianças! Quantos passaram a sua infância e adolescência como o "Caixa d'óculos", o "Gordo", o "Ossos" ou o "Bulldog", sem que os seus colegas alguma vez se lembrassem do seu verdadeiro nome?

É pena é que só hoje, com a morte de alguém (e sabe-se lá quantos anteriormente, em silêncio) se pense que é importante perceber e defender as pessoas numa escola.