Primeiro, foi o caso do carro alegórico com o Magalhães a fazer "browse" a fotos de mulheres nuas, com imagens do tamanho de um porta-chaves. À distância a que normalmente as pessoas estão dos carros que desfilam, certamente que 10% é que se iriam aperceber do que alí estava. "Ai Jesus, que estão a difundir pornografia!" e lá vem uma ordem da juíza a obrigar à remoção das mesmas, enquanto o Cristiano Ronaldo exibia orgulhosamente um TOMATE (venham eles, venham censurar-me por dizer "tomate" e não "testículo") peludo e a Manuela Ferreira Leite tinha um ceptro de Raínha com um vibradôr na ponta. "Ah, e tal, afinal isto não é assim tão mau..." e truclas: a imagem foi reposta, a publicidade gratuíta foi feita e o Carnaval de Torres Vedras foi um sucesso.
Depois veio a Feira do Livro em Saldo de Braga e os famigerados exemplares do livro "Pornocracia". Os livros estavam expostos, com a capa com uma menina de perna escanchada. "Ai Jesus, que andam a vender livros pornográficos numa feira de gente séria!" e lá vem a polícia e apreende aquilo tudo, enquanto os livros de banda desenhada do Milo Manara, do Hugo Pratt e outros continuam à mão de semear de qualquer criança curiosa nas livrarias de Norte a Sul do País. "Ah e tal, a foto causa impacto, coitadinhas das crianças, mas pronto tomem lá os livros outra vez..." e truclas: os livros foram devolvidos e toda a gente já conhece o livro... Resta saber se já se venderam todos os exemplares.
Resta-me perguntar porque raio este ataque súbito de pudor em Portugal. Curiosamente ninguém manda retirar imediatamente os rabiscos xenófobos e racistas que além de emporcalharem os muros e prédios das cidades, têm mensagens bem poéticas, polidas e educadas.
Cada vez me convenço mais que as prioridades estão directamente proporcionadas com o "status quo" de quem grita "socorro"...
Cada vez me convenço mais que as prioridades estão directamente proporcionadas com o "status quo" de quem grita "socorro"...
3 comentários:
Já comentei isto a proposito do caso do Magalhães no carnaval. Nós podemos ficar chocados com tanto puritanismo mas verdade que viver em democracia também é isto. A nossa liberdade termina quando começa a dos outros, neste caso, os púdicos. Estão no seu direito de protestar se se considerarem ofendidos com determinada imagem.
Nos dois casos veio a comprovar-se que nenhuma das imagens era conteudo porno e sim nudez, sendo que foram restituidas a seus ''donos''.
No entanto, eu que tenho a mania da conspiração às vezes penso que estas cenas são feitas de proposito para vender. (vender o carnaval de torres vedras, vender os tais livros...). Enfim, coisas da minha cabeça!
Aí está um tema fundamental nos nossos tempos (e noutros...): a liberdade. De pensar, de estar e fazer. O problema são sempre os limites e as fronteiras, ou a falta delas. O melhor é irmos mesmo pela ideia que a liberdade de uma pessoa acaba onde começa a de outra. Pode ser muito abstracto, mas às vezes ajuda ter isto em mente...
Há dois pontos importantes neste tema:
1- se não passou tudo (principalmente na questão do Carnaval de Torres Vedras) de jogada publicitária.
2- o ridículo de se preocuparem com um determinado caso quando existem N muito mais evidentes de "atentado à liberdade" que não são alvo das mesmas preocupações.
Como duas situações tão diferentes têm tantas semelhanças... ;)
Enviar um comentário