Foto de Jeff Yeager - metallica.com
Do concerto, tenho a dizer que de 2010 para cá o antigamente denominado Pavilhão Atlântico já mudou de nome mais duas vezes, mas a acústica mantém-se sofrível, com a diferença que para este, soube entretanto, baixaram o volume dos instrumentos. Bem me parecia. Para evitar que os ouvidos da malta sofressem com a ressonância, perdemos os "baixos" a bater na barriga e parecia que estávamos longe, ou então fora do pavilhão com eles a tocar lá dentro. Não sei se ficámos a ganhar com a situação, honestamente, porque já estava a contar com a ressonância (que se manteve) e fiquei desmoralizado com a falta daquele primeiro impacto que normalmente Metallica provoca quando entram em acção! Era suposto a gravação do início de "Hardwired" terminar e levarmos com o som ao estilo de uma rajada de vento que nos desmancha o cabelo.
Foto de Brett Murray - metallica.com
Isso não aconteceu e foi pena, porque se o som estivesse à altura tinha sido um concerto memorável. Assim, foi só muito bom! Alinhamento bem escalado, com aposta forte em "Hardwired... To Self Destruct" e nos primeiros cinco álbuns. Foram duas horas e meia numa viagem pelo melhor que os Metallica fizeram na sua carreira. Começaram com dose dupla de "Hardwired...", terminaram com dose dupla de "Metallica". Depois, 15 minutos a despedir dos fãs, algo que a banda sempre teve o cuidado de fazer: de alimentar essa empatia com quem os segue e tudo faz para estar presente nos seus concertos.
Um dos momentos inesquecíveis foi a homenagem feita ao Zé Pedro por Robert Trujillo e Kirk Hammet. O baixista começou a tentar cantar em português, mas não precisou de muito esforço pois rapidamente a sua voz foi engolida pelo retorno do público, e aí libertou-se e cantou com emoção uma coisa parecida com a letra original. Foi um momento tão surpreendente como comovente.
Foto de Jeff Yeager - metallica.com
Tenha sido um momento de espectáculo racionalmente preparado ou uma homenagem sentida a um dos tipos da família do rock, este facto colocou os Metallica como notícia no país. Rádios, TV's e jornais, ninguém ficou indiferente. E todo este fuzuê levou à inevitável reflexão: afinal, o heavy metal em particular, e o rock em geral, está morto?
Assisti a um concerto num pavilhão cheio com 18 mil almas rockeiras, literalmente dos 8 aos 80 anos de idade. Pearl Jam esgotou em menos de nada, Iron Maiden está quase esgotado, e este ano ainda há Muse, Queens of the Stone Age, Megadeth, Machine Head, 30 Seconds to Mars, Marilyn Manson, Ozzy Osbourne, Stone Sour e até U2!! Este é o panorama de concertos rock e metal de 2018, num país em que não há uma única rádio rock (ou que passe rock em horário nobre) de abrangência nacional.
Foto de Brett Murray - metallica.com
Apesar de algumas surpresas interessantes, os Grammys premiaram Leonard Cohen como artista rock, numa imbecilidade só superada pela nomeação de Beyoncé no ano passado para a mesma categoria. A cerimónia oficial, transmitida para todo o mundo, foi um desfilar de triste mediania onde impera o hip-hop, longe dos tempos áureos onde pontificavam Fugees e Eminem, e se glorifica o pimba com "Despacito". Coitado do Luis Fonsi que não tem culpa e aproveita para esfregar as mãos de contente, mas quem está certamente muito chateado com tudo isto serão Lucenzo, Rui Bandeira, Toy e outros que vivem da música popular e não tiveram o mesmo reconhecimento sequer para os Grammys Latinos, quanto mais para os "mundiais". Foi a cerimónia onde Ed Sheeran foi nomeado para apenas uma categoria. É certo que o último não é dos melhores trabalhos do cantor pop, mas o pior single de Ed Sheeran vale mais musicalmente que qualquer êxito de Rihanna. Os Nothing More ou os Foo Fighters, com duas das melhores músicas do ano a concurso, não tiveram direito sequer a uma pequena participação na cerimónia. Nada! Se o rock não passa nas cerimónias mais importantes da indústria da música, onde pode passar?!
Foto de Jeff Yeager - metallica.com
O rock não está morto, mas parece que o querem matar. Lentamente, como quem aguarda que um velho se apague por falta de comida, porque a realidade é que o rock é inconveniente, é irreverente, é rebelde e foi a peça chave para a consciencialização das sociedades. Não será a kizomba, o kuduro ou o reggaeton que irão por as pessoas a pensar, e não será certamente este hip-hop da moda, o hip-hop das "bitches", das "pieces", das "bullets to the brain" e dos impropérios sem sentido que fará a diferença na luta pelo fim do racismo e segregação racial. Este hip-hop é precisamente o que interessa para que o racismo continue implantado.
Foto de Brett Murray - metallica.com
É um problema do rock, do metal, mas essencialmente da generalidade da música. Goste-se ou não de Salvador Sobral, em termos musicais, de personalidade ou de postura face ao mundo do espectáculo, tem toda a razão quando diz que a música não é luzes, fogos de artifício e miúdas desnudas. É giro dançar uma parolice qualquer numa festa, e a música de festa também tem o seu lugar nas nossas vidas. Não tem de ser nem deve ser levada ao colo para a apoteose quando no fim se espreme aquilo e nada sai. Mas também é preciso dizer que a música não tem de ser só amor, paixão, desencontros e sofrimento de perda, porque não foi só disso que se fez a história da música. A música também se fez de sonhos, pesadelos, drogas, feitiços, lutas de rua, guerra e um sem fim de outros temas, mas sempre com a melodia que, por si só e retirando a letra, produz emoção nas pessoas.
PS: nem me debrucei sobre a prespectiva das televisões temáticas de música, porque apesar de ainda termos a abrangência musical na VH1, temos uma MTV que não passa música, nem boa nem má...
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