19/07/2016

"ROUBO-TE O TEMPO, PARA QUÊ UM BEIJO?" OU "COMO ESCREVER A LETRA DE UM ÊXITO MUSICAL PARA TOTÓS"



Às vezes um tipo tem a plena consciência que vai começar a divagar, e que esse "divaganço" o vai levar por caminhos tortuosos, e terá um efeito semelhante ao de chegar a uma bomba de gasolina com um carro em chamas e desatar a abanar a mangueira da bomba enquanto grita "eh pessoal, g'anda chuvada", num bonito e quente espectáculo de fogo preso... Esta é uma dessas vezes.

Porquê?! Oh meus amigos, nos tempos que correm, dizer "epá, não gosto muito de açorda" é o suficiente para ter 100.000 alentejanos a fazer juras de morte a quem o confessar por atentar contra a imagem da gastronomia de uma comunidade tão singular na população portuguesa! Por isso, imaginem o que pode suceder quando alguém espicaçar uma orde de fãs borbulhentas e carregada de estrogénio polulante ao afirmar "este jogo de palavras é mesmo muito farsola"!

Pois é, meus amigos, estou neste momento a tirar a agulheta da bomba, porque vou mexer com uma música dos D.A.M.A.!


Mas antes disso, as origens. A base por onde tudo isto começou...

Eu sempre tive uma "paixão especial" por essa declaração de amor intitulada "Roubo-te um Beijo" de André Sardet. O poema é do estilo "menino do 6º ano apaixonado", e confesso que me surpreende o sucesso que teve e ainda tem hoje em dia. Pode ser de mim, é verdade, mas esta conversa não vos parece estranha?

- Olha, quero dizer-te uma coisa... Um dia destes, eu hei-de ir à tua casa para me dizeres como é.
- Dizer como é? Mas como é o quê?!
- A tua casa.
- Mas... mas tu não és ceguinho, poderás ver como ela é assim que entrares. E eu mostro-ta, com prazer...
- Pois, mas depois beberei do teu amor numa chavena de café.
- Ah... ok...

O verso seguinte até... pronto, vá lá escapa! Ele diz que dança com ela na varanda para toda a gente ver e demonstrar assim o seu desejo em conquistá-la, e depois rouba-lhe o beijo ao bom estilo de Hollywood e não o devolve, e tal... 

Mas, logo de seguida, volta à carga...

- E mais, quando for a tua casa direi tudo o que sinto, e desta vez eu não minto, prometo!
- Hum... mas já me mentiste? Isto ainda nem começou mas já está no bom caminho... 
- Quero segredar-te ao ouvido o que tenho para te dar, e depois abraçar-te até o dia nascer!
- Mas... porque não me dás logo? É preciso dizeres-me?! Estragas a surpresa assim!
- IRRA!!! Eu aqui a abrir o meu coração e tu... Porra, és mesmo chata! Estragaste isto tudo!!!

E assim se acaba uma potencialmente linda estória de amor, por causa do André Sardet e das suas rimas forçadas...

Hoje, enquanto levava o Junior para o infantário, eis que ouvi um novo grande mega-super-cool altamente bacaníssimo êxito dos D.A.M.A. intitulado "Tempo Para Quê"! E devo dizer que os jovens estão no caminho certo para serem os novos Andrés Sardetes... Sardês... Sardêts... isso. 

A intenção até é boa: um tipo amargurado com a prespectiva de perder a sua dama (piada fácil...), mas rapidamente se percebe que o fim provável desta história é ele na esquadra da polícia algemado...

- Pediste tempo para quê, hã? Eu quero-te ao pé de mim, já percebi isso faz tempo, portanto está feito, 'bora! Hein?!?! Como?! Estás melhor assim? Não... não-não-não-não-não, isso é MENTIRA! Olha para mim e diz lá isso outra vez!! Diz!!

E daqui, partimos para toda uma divagação entre os períodos em que tudo eram rosas, e amor, e corações palpitantes, e nuvens cor-de-rosa, e de como era bom, e que quer voltar a ter isso, mas que a moça estragou tudo, apesar de não ter culpa... mas que se está melhor assim, porque raio liga tantas vezes (talvez para dizer "vai-te embora da minha porta ou chamo a polícia! sim, outra vez!").

E continua mais ou menos na mesma onda, numa bipolaridade de emoções, até que na última secção o moço parte para o ataque e para o insulto, fazendo até insinuações bem explícitas relativa à intimidade do casal e num tom que pouca gente gostaria de ouvir na rua... excepto, claro, quando acompanhadas por uma bela guitarra acústica.

Onde entra o Sardet nisto tudo? Na existência de vários, muitos, toneladas de versos em que temos a sensação que o texto anda às voltas até acertar na palavra que permite a rima com o verso anterior, obviamente

O que me chamou à atenção foi uma parte da letra em que gosto de acreditar que alguém, enquanto escrevia esta letra, a dada altura pensou:

- Bolas... está quase tudo pronto, mas todos os clichés rimáveis já foram usados... e tenho aqui um bocado em falta... É que amanhã os gajos têm de gravar isto, já não há muito tempo... como vou preencher este espaço?! (PLIM!!! Fez-se luz!!!!) Já sei!!!!

E eis que tilinta nos nossos ouvidos:

Pediste espaço e tempo
Eu dei-te tempo e espaço
Em vez de espaço no tempo
Perdeste tempo no espaço

Epá... esta foi forçada... mas também, nesta história, tinha de ser algo assim, bem forçado!

E pronto... assim terminamos o escárnio sobre um dos maiores sucessos das play-lists das rádios actualmente!

Sim, eu sei, só digo mal, sou um aziado, escrevo mal, nunca fui músico, tenho a mania que sou bom, e como jogador de futebol digo várias vezes "estou feliz por estar contente"... blá blá blá... Mas confessem lá se não é giro desconstruir assim as canções?!

PS: Portugal Campeão da Europa de Futebol deu-me 80 visualizações em uma semana. Aposto que este vai batê-lo largamente e até vai ter direito a comentários e tudo! A chamarem-me tudo menos "bom rapaz", é certo, mas muitos comentários... e de miúdas, ainda por cima! :D

Sem comentários: